segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

5 ANOS DE BIEL

Hoje meu PEQUENO grande homenzinho faz 5 aninhos, mas a alegria é MINHA!!!
Biel, obrigada por fazer TODOS os meus dias valerem a pena, obrigada por me adotar, obrigada me permitir que eu seja a MÃE mais FELIZ do mundo!!!
TE AMO DEMAIS!!!





"O melhor lugar para se gerar um filho é no coração." [Elaine S. Andrade]

sábado, 17 de dezembro de 2011

SEGUNDO 17 de DEZEMBRO


Era 17 de Dezembro do ano de 2009. Eu acordava esperando por mais um dia como outro. Não imaginava por um dia marcante, inesquecível e que seria o marco de uma nova fase em minha vida. Existiria uma Elaine ANTES de 17/12/2009 e outra Elaine DEPOIS de 17/12/2009.
E hoje se fecha mais um ciclo. Ao mesmo tempo se inicia outro.
Quem acompanha o blog sabe como foi a rápida e inesperada mudança de "Elaine" para "Mãe".
São dois anos onde tudo mudou. São dois anos onde eu mudei; mudanças que talvez não sejam percebidas pelas outras pessoas, porém mudanças valiosas e gloriosas para mim. Jamais imaginei que eu pudesse me tornar um ser humano melhor; achava impossível. Tornar-me mãe, sem sombra nenhuma de dúvidas, foi o melhor e o maior acontecimento da minha vida e, olhando tanta coisa que aconteceu, mudou e inúmeras coisas que aprendi, lamento não ter me tornado MÃE antes. Noto agora que esperei muito tempo para ser ADOTADA.
Definitivamente não ADOTEI. Seguramente fui ADOTADA. Tanto o Gabriel quanto a Rebecca  me ensinaram coisas que eu desconhecia: amor, atenção, dedicação...Confesso que estou em débito com ambos, já que eles já transformaram minha vida em demasia sem nem ao menos saberem desta capacidade que tem em mãos. E eu? Puxa, não fiz nada do que programei e queria/quero, que devo, que posso e que eles merecem. Procuro ter paciência e fé, por enquanto só foram dois anos e eu sei que tenho e posso fazer muito mais.
Enfim, estou aqui para agradecer a torcida organizada, o apoio e a colaboração de um pequeno grupo de pessoas que NUNCA desistiram de mim.
Claro, venho também agradecer as críticas desnecessárias e desconstrutivas, as palavras cruas e nuas, ríspidas e grosseiras, a rejeição de um grupo enorme (e que só tende a crescer) que só apostou no contrário e que acreditou que JAMAIS eu conseguiria realizar um sonho ou que meu sonho era ignorante, tolo, estúpido ou medíocre.
Acima e tudo venho agradecer a DEUS por permitir que o primeiro grupo,  por menor que fosse, GANHASSE.
Gabriel e Rebecca, sem vocês na minha vida, agora nada teria ou faria sentido.
A melhor sensação é estar voltando para casa, depois de um longo dia cansativo e estressante, sabendo que há alguém que espera por mim, prestes a me dar um beijo e um abraço e dizer: 

"Mamãe, eu estava com saudade. Te amo!"



"O MELHOR LUGAR DO MUNDO PARA SE GERAR UM FILHO É NO CORAÇÃO."

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

EU NÃO O CONHECI

Faz um bom tempo que não escrevo aqui... estou com saudades de escrever e da interação com os meus seguidores/leitores... mas, estou num momento diferente da minha vida... não sei explicar como... talvez tenha me faltado inspiração ou de repente a escrita não tem conseguido revelar o que tenho vivido.
Enfim, deixo abaixo um texto maravilhoso de Oswaldo de França Jr. Lembro-me de tê-lo lido pela primeira vez em meados de 1992. Naquela época eu não entendia perfeitamente o sentido do que estava escrito nem tão pouco a mensagem verdadeira, o desejo de mudar o passado e a angústia do arrependimento.
O que eu poderia falar para vocês???


Não importa o que aconteça ou quão ocupado você é... não permita que seu filho vá embora sem conhecê-lo... de experiência própria, vocês não entendem o quanto fará diferença na vida dele quando se tornar adulto e precisar ir...




" Meu filho foi embora e eu não o conheci. Acostumei-me com ele e me esqueci de conhecê-lo. Agora que sua ausência me pesa, é que vejo como era necessário tê-lo conhecido.
Lembro-me dele. Lembro-me bem em poucas ocasiões.
Um dia, na sala, ele me puxou e a barra do paletó e me fez examinar seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.
Uma outra vez me pediu que lhe consertasse um brinquedo velho. Eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo.
Na noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete, dormindo e abraçado ao brinquedo velho. O novo estava a um canto.




Eu tinha um filho e agora não o tenho mais porque ele foi embora. E este meu filho, uma noite, me chamou e disse:


- Fica comigo. Só um pouquinho, pai!
Sou um homem muito ocupado. Mas meu filho foi embora. Foi embora e eu não o conheci."

[Oswaldo França Júnior]

terça-feira, 8 de novembro de 2011

VAMOS CONVERSAR, FILHOTES?


Revirando coisas que tenho guardadas, achei o texto abaixo, num papel que já estava começando a amarelar, apesar de ter apenas 4 anos de guardado. Ah, é inegável que ao tê-lo em minhas mãos voltei a um passado, que me pareceu tão distante e realmente foi porque conforme a narrativa, não voltei apenas há 4 anos; voltei há pelo menos 26 anos. Nossa, que turbilhão de emoções!  E quantas lágrimas corridas e lenços usados! E aí, vem comigo?


Hoje é 18 de Setembro de 2007. São 15hs07minutos. Esta tarde está ensolarada, mas venta bastante, o que faz o dia bastante fresco. Estou ao som de Creedance Clearwater Revival.

Tenho 27 anos, mas no mês de outubro completo 28. Estou desempregada. Passo por um momento que não havia programado – acho que ninguém programa seu próprio desemprego – e vou confessar... situação delicada. Não posso me afundar em pensamentos negativos, então estou focando minhas forças em pensamentos que me proporcionem bem estar. E ultimamente tenho pensado muito em vocês. Como posso pensar em vocês se não os conheço? É simples: posso não conhecê-los, mas vocês já estão comigo desde meus oito anos, nos meus planos, nos meus sonhos. E parece que agora estou mais próxima de uma meta estabelecida e não posso falhar, não posso parar... meu sonho está cada vez mais próximo... e isto traz uma sensação que não posso explicar no momento...

Sei que vocês não devem estar entendendo absolutamente nada, portanto nada melhor do que explicar. Este será uma espécie de diário. Um diário onde vou explicar para vocês certas coisas antes de tê-los em meus braços e vou registrar momentos que ainda vamos passar, juntos. Minha idéia é de poder fazer com que vocês sintam que não foi um acaso que os trouxeram até mim; vocês foram sonhados, planejados, esperados... anos a anos, meses a meses, dias a dias, minuto a minuto. Você foi uma decisão tomada quando eu ainda nem entendia direito a vida. E vocês foram uma decisão reforçada quando eu já tinha experiência o suficiente para determinar o que eu queria da minha vida, talvez pelo destino ou simplesmente porque eu fiz meu destino se voltar para vocês. 
Dizem que quando desejamos demais uma coisa, fazemos com que todas as forças do universo trabalhem a nosso favor, fazendo com que nosso desejo se realize e, mesmo se este desejo não estiver escrito em nosso destino por Deus, conseguimos que ele seja inserido em nossas vidas, de maneira que não mudará a essência de nossa trajetória. É como se Deus tivesse um grande livro de nossas vidas, com todos os caminhos que traçaremos determinados e, de repente, já que o livre arbítrio nos foi dado, Ele mesmo alterasse alguns caminhos e momentos que viveremos para que nosso desejo se faça e ao mesmo tempo não mude a estrada.

Ah, aqui também vou fazer citações e indicar livros, filmes, músicas e outras coisas que possam alimentar a formação social e cultural de cada um de vocês. E não esperem idéias prontas... antes de tudo quero fazer de vocês seres pensante, capazes de julgar ações e tomar decisões sozinhos. Claro, muito do que sou é devido a uma carga da educação que tive pelos meus pais, mas, principalmente pelo que aprendi fora de casa. São tipos de educação bem diferentes e é por isso que desejo estar preparada para cada pergunta que vocês me façam, para cada erro de vocês, cada julgamento e cada decisão tomada. E por quê? Porque crescer é difícil... e crescer sozinho é muito mais difícil ainda.

Além de mãe, quero a coluna, o alicerce e o livro de filosofias. Coluna e alicerce estão voltados para o material, para o concreto e, por sua vez, filosofia está voltado para um mundo de idéias, pensamentos. Ou seja, ao mesmo tempo que serei o ponto de apoio para vocês, desejo que sigam suas próprias idéias e desejos, com base em seus próprios valores e instintos e com o que julgarem moral e ético.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ORAÇÃO DE CRIANÇA



Depois de muita conversa, discussão, interação e até bate boca, eis que o Gabriel e a Rebecca conseguiram, finalmente, chegar a um acordo para fazer uma oração antes de dormir.
Claro, precisei cortar muitas coisas porque a oração acabou se transformando num capítulo da Bíblia.


Me diverti muito, principalmente com o Gabriel ensinando, explicando, cutucando, e corrigindo a irmãzinha:
- Rebecca, quem fala "obrigado" sou eu porque eu sou menino. Você é menina e tem que falar "obrigada"!

Muitas vezes ela apenas obedecia e corrigia, recitando com "obrigada" novamente... outras vezes dava de ombros e continuava, sem ligar para o que ele falava. Eu precisava  prender minhas gargalhadas quando a ouvia dizer:

- Tá bom, Biel! Papai do Céu vai entender mesmo assim! Deixa eu continuar.

Ele não ficava satisfeito:
- Hora de falar com Papai do Céu é hora muito importante e séria. Não pode fazer brincadeira!

E ela resmungava e rebatia:
 - Eu não estou brincando. Eu só "rerrei". Papai do Céu entende que eu rerrei.

Precisei apaziguar a briga porque se permitisse ela iria longe, já que a Rebecca não se intimida e só pára quando a última palavra é a dela:
- Silêncio! Ou fala ou faz a oração. Assim Papai do Céu não entende nada, vai ficar todo confuso. Vamos recomeçar. O Gabriel fala obrigado e a Rebecca obrigada.

E finalmente saiu:




"Muito obrigado(a), Papai do Céu, pelo meu dia de hoje
Estou muito feliz
Obrigado(a) pela caminha onde vou dormir
Proteja a minha família
Obrigado(a)
Amém!"


O interessante de todo esse confronto foi saber que elas entenderam para que serve a oração. Elas não entendem quem é Papai do Céu, mas sabem que é preciso acreditar em algo para seguir a caminhada. O que mais me fascina é a pureza e a dedicação de cada um; creio que não há nada mais puro do que o coração e a oração de uma criança; elas não contestam nem duvidam, apenas acreditam. 

E acreditar para elas é TUDO.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

SIGNIFICADOS

Seguindo a ordem cronológica, hoje eu deveria postar a descrição do dia 24 de Dezembro de 2009, porém hoje tenho um motivo muito importante para compartilhar e, aproveitarei também para dar algumas informações.


Hoje é 25 de Outubro. Segue o ano de 2011.
Depois que virei mãe, surgiram tantas novas datas que se tornaram inesquecíveis e eu ainda não sei dizer qual delas é a mais importante.
Exatamente há um ano, ainda pela manhã, lembro-me de estar no Cartório de Pirituba. Ah, fecho os olhos e posso sentir o que sentia naquele dia! Eu era toda ansiedade. Já havia entregue a declaração do Juiz para troca dos nomes e registro das crianças em meu nome. Então eu seria mãe; mãe legal. Era como se eu estivesse há minutos de dar a luz. Talvez, minha ansiedade fosse tão grande ou até maior quanto de uma mulher, na sala de parto, prestes a ter o primeiro filho.

Muitas pessoas tem dúvidas em relação ao registro, quando trata-se de adoção e, principalmente em relação ao nome. Poderei trocar o primeiro nome da criança ou apenas será trocado o sobrenome? O registro novo trará informações que tratou-se de uma adoção? Constará o nome dos pais biológicos? Quanto tempo isso leva? Adotarei uma criança e nem terei direito de escolher um nome?

Sim, eu me fazia as mesmas perguntas antes de entregar o dossiê de adoção no Fórum e definitivamente entrar com processo de adoção. Procurei muitas informações na internet, mas, por mais que eu lesse muitas matérias e declarações falando a respeito da adoção e do registro legal, nada me convencia em 100%. Há muita informação desencontrada na internet e, pasmem, não há nenhum site oficial com aquela tão conhecida sessão FAQ ( Frequently Asked Questions ou Perguntas Mais Frequentes) com as dúvidas e pesquisas mais procuradas. 
Então agora pretendo falar de um momento muito importante na fase da adoção. Nomes e sobrenomes. E aqui não há especulação, visto que eu passei pelo momento e as informações que aqui deixarei são verídicas.

Todo casal ou toda mulher que descobre que está em gestação, provavelmente, a primeira coisa que pensa é: será menino ou menina? Que nome vou dar?
Confesso que muito antes de começar a pesquisar informações sobre adoção senti um pouco de desânimo imaginando que só seria possível trocar o sobrenome da criança. Claro, fui um tanto quanto egoísta porque pensei: "Puxa, já não vou gerar a criança e nem terei direito de escolher o seu nome?"
Mas, para a curiosidade e felicidade de todos que entram no processo de adoção, é possível trocar o nome da criança, sim! É totalmente legal, um direito do adotante. Porém aí, também vale o bom senso. 
Por que bom senso? 
Oras, sejamos sinceros: o nome é tudo o que temos, ele representa não apenas uma identidade, mas um conjunto de cultura, valor e aceitação. Claro, existem milhões de pessoas com o mesmo nome, mas quando você está no seu mundo, no seu círculo de amigos, de colegas de trabalho ou escola você é você por causa do nome. E o nome torna-se mais "único" quando dele acaba sendo criado um apelido carinhoso.
As psicólogas do Fórum onde dei entrada no dossiê de adoção sempre pediam que, antes da mudança do nome, fosse feito um diálogo e uma conversa esclarecedora com a criança (lembram do meu bate papo com o Gabriel), claro, quando ela já possui mais idade e já se identifica com o nome dado pelos pais biológicos, que foi o caso do W. Ele tinha 3 anos e já possuía apego ao nome, entendia que ao pronunciarem "W" era com ele ou dele que estavam falando. 
Tive também, das psicólogas, uma informação muito interessante: em 97% dos casos, quando o adotante quer trocar o nome da criança, ela aceita com a emoção de ganhar um presente. E a frase mais ouvida é: "Pais novos, vida nova, nome novo!" As crianças gostam da troca do nome principalmente porque o vínculo com momentos vividos e que foram considerados tristes, automaticamente são deixados para trás com o nome. Os 3% restantes geralmente não concordam com a troca do nome por não gostar do suposto pelos adotantes. Notei que existe veracidade no fato porque o W aceitou muito rápido o nome Gabriel... ele nunca pronunciou o nome antigo desde que conversei com ele; eu esperava que ele ficaria confuso durante um tempo, mas não... para minha surpresa ele se apegou facilmente ao nome Gabriel. Em relação à Rebecca foi muito mais simples, já que ela não falava.

Sempre pensei em um nome composto, onde eu escolheria um e o outro deixaria para o possível pai escolher, mas infelizmente nenhum homem quis assumir o sonho da adoção comigo. Um nome que sempre tive vontade de colocar em um filho foi Yeshua. Muitos acham que é por motivo religioso, já que Yeshua é Jesus em aramaico, mas, particularmente, não tenho religião, porém gosto muito das parábolas contadas no segundo testamento da Bíblia, que envolvem Jesus, um homem sábio e de coração bom. E foi pensando na personalidade de Jesus e não em religião que há muito tempo surgiu a vontade de dar o nome "Jesus" ao meu filho. Porém não gosto das coisas com significado simples; gosto de deixar mensagens nas entrelinhas ou fazer com que as pessoas procurem descobrir o significado das coisas. Então, depois de muitas pesquisas e estudo, defini que ele se chamaria Yeshua ao invés de Jesus. Fiquei esperando o companheiro, que fosse dividir a escolha do nome e a tarefa de ser pai, mas, não aconteceu. Então precisei pensar em outro nome sozinha. E aí imaginei optar por um nome mais simples, visto que a pronuncia de "Yeshua" não é tão simples (há quem pronuncie Yéshua, Yeshua, quando é Yêshua) e sabia que poderia trazer alguns constrangimentos para ele, principalmente na fase escolar. Eu não tinha nada em mente, então fui atrás dos significados. Logo na primeira busca, encontrei Gabriel, que se encaixava perfeitamente ao já escolhido. Além de tudo era o nome de um anjo. Sim, Gabriel, aquele que anunciou à Maria que ela daria a luz a um menino, o qual deveria chamar Jesus.
E assim ficou escolhido: Gabriel Yeshua.


Gabriel: nome do anjo mensageiro de Deus à Virgem Maria.
Yeshua: origem grega, Jesus, em aramaico, aquele que louva o Senhor.

Confesso que para o nome da menina eu nunca havia pensado em nada já que eu não tinha, de início, pensado em adotar uma menina. Entrei com o processo de adoção para adotar um menino primeiramente. Sim, já havia a intensão de adoção de uma segunda criança, provavelmente uma menina, mas eu só faria isso depois de um tempo que tivesse adotado o primeiro. 
Definitivamente, nada é bem como a gente quer.
Numa das reuniões com as assistentes sociais e psicólogas, mudei todo o meu plano e minha linha de pensamento.
Ouvi relatos e declarações de irmãos que são separados na adoção.
A gente deixa de acreditar na justiça em nosso país depois de vermos tantos e tantos maus exemplos de como se tratar as pessoas, mas, pasmem: há uma grande preocupação do Estado em deixar irmãos juntos porque eles carregam não apenas um laço biológico, mas principalmente dividem uma história, passaram pelas mesmas situações e há uma forte necessidade de continuarem juntos. A separação de irmãos é muito tensa, dolorida e, em muitos casos a adoção acaba não dando muito certo no período de adaptação e guarda provisória. Tanto a criança ou adolescente adotado quanto o que ficou no abrigo esperando sua vez mudam de comportamento e chegam até a entrar num processo de regressão ou paralisia evolutiva. Cada história que eu ouvia fazia meu coração arder e em uns dois ou três casos, sei que fiquei deveras triste.
Naquele momento, fechei meus olhos e pedi silenciosamente que Deus sussurrasse aos meus ouvidos  o que eu deveria fazer. Fiquei muito, muito emocionada e cheguei a chorar. Senti muita paz e uma brisa suave passou pelo meu rosto. Estava decidido: eu adotaria duas crianças. Dois irmãos. Independente dos sexos e das idades. Poderiam ser dois meninos ou duas meninas, quem sabe um casal. Idade? Bem, pelo menos um deles deveria ter menos que 5 anos, o outro, não importaria. Pois bem... olha o que o destino me aprontou: fiquei na fila de espera por 36 semanas (9 meses, uma gestação) e digo que fui premiada com um casal, ambos com idade inferiores a 5 anos. Quando recebi a notícia de que teria uma menina, comecei outra pesquisa para determinar o nome.

Bom eu já tinha o Yeshua. Pensei em escolher um nome feminino que trouxesse uma ligação com Jesus. Logo, impossível não pensar em Maria. Sim, Maria, definido. Mas, eu escolhera Yeshua, em outro idioma (idioma antigo) e fui procurar Maria no mesmo idioma, mas não gostei da pronúncia. Então encontrei "Mariamne", que é Maria em grego. E logo havia definido o segundo nome. Mais uma vez pensei no constrangimento em período escolar. E fui em busca de um nome mais simples, mais comum... e dessa vez escolheria o nome unicamente pelo significado, não tentaria manter um elo como fiz em "Gabriel Yeshua". Fiquei por dias fazendo pesquisa de nomes unicamente pelo seu significado. E, encontrei o significado que tinha tudo a ver com aquele momento. Para minha surpresa, o nome era Rebecca, um nome bíblico também. Logo eu que não sigo religiões nem acredito em igrejas. Mas, o significado continha tudo o que eu queria e ficou decidido que seria Rebecca, Rebecca Mariamne.

Rebecca: aquela que une.
Mariamne: origem grega, que é Maria, significa senhora soberana.



Então, no dia 25 de outubro de 2010 nasciam legalmente e definitivamente meus filhos, com os nomes que eu escolhi e com meu sobrenome.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

MATÉRIA COM JULIANA MORENO

Pessoal,


Hoje estou aqui para compartilhar uma notícia muito importante para mim!

Pouco a pouco vão aparecendo os resultados do meu Blog "Diário de Adoção".

Graças a ele, tive e tenho a chance de conhecer pessoas incríveis que, assim como eu, tem muitas dúvidas, medos e preconceitos em relação não somente à adoção, mas, principalmente o "pós" adoção. Entre elas foi a  estudante de Jornalismo, Juliana Moreno, das faculdades FIAMFAAM que escreveu uma matéria  sobre o tema e entrou em contato comigo após me encontrar pela internet.


Segue o link do bate papo sobre adoção que tive com ela e que foi publicado no Jornal On Line da Faculdade:





Pouco a pouco vou fazendo um barulhinho. 


E não é mérito meu, é de TODOS VOCÊS que, de uma forma ou de outra, me incentivam, me apoiam e estão ao meu lado.

Mais uma vez, OBRIGADA


P.S.: Obrigada, Juliana Moreno, pelo espaço concedido e pela oportunidade.

sábado, 15 de outubro de 2011

AOS MEUS MESTRES, COM CARINHO




Já fiz muitas escolhas em minha vida. Muitas delas foram erradas e só me frustraram; algumas me levaram a lugar nenhum; outras só atrasaram os meus passos ou fizeram com que eu retrocedesse.



Ter o Gabriel e a Rebecca na minha vida também foi uma escolha. Não posso prever onde vou chegar ou qual a velocidade dos meus passos, muito menos se vou me frustrar. Mas uma certeza eu já tenho: foi uma escolha CERTA.



Por quê?



A cada dia eu me transformo e já sinto que sou um ser humano melhor. E ser um ser humano melhor, para mim já basta.

Obrigada, Biel e Becca, por essa revolução em minha vida!

Obrigada por me ensinarem mais e mais a cada dia! 













AMO VOCÊS!!!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

NOMES NOVOS

Acho que, se tudo der certo, consigo encerrar neste post o Dia 23 de Dezembro.


Tudo sobre controle, também aproveitei para brincar com o W no chuveiro. Acho que ficamos quase uma hora nos divertindo, brincando, cantando...

A Y dormia quando entrei com o W no quarto para trocá-lo. Aproveitei nosso momento a sós para dar uma notícia nova. Estava tensa, pois se quer imaginava como ele reagiria.
- Hoje é um dia legal, né, W? É seu aniversário, você ganhou uma casa, uma mamãe...
- Uma vovó também... - ele me interrompeu.
- Claro, uma vovó! Ganhou coisas muito importantes: uma casa, uma família e um lar. E que tal ganhar um nome novo?
- Nome novo?
- É. A partir de agora você irá se chamar Gabriel.
De W para Gabriel para Gabiel - Futuro Biel
- "Gabiel"? - ele sorriu.
- Sim. Gabriel. O que você acha?
- Eu não vou mais chamar W?
- Não. W é nome do passado. Você está ganhando uma vida totalmente nova. Nada melhor que um novo nome.
- Gabiel, Gabiel... hmmm... - ele parecia pensativo.
- Me diz, gosta? Ou você quer ser o W?
- Hum... eu quero ser o Gabiel!!!
Nossa, tinha sido mais fácil do que eu pensava! Os olhinhos redondos e negros brilhavam e o sorriso deixava os pequenos dentes à exposição.
- Opa, que bom que você gostou! E a sua irmãzinha não será mais Y. A partir de agora o nome dela será Rebecca.
- "Uebecca"?
De Y para Rebecca para Uebecca - Futura Becca, Bebecca
- Rebecca. Que tal?
- Legal também.
- Então a partir de agora eu vou chamá-los de Gabriel e Rebecca. E quando alguém perguntar qual é o seu nome, o que você vai responder?
Ele ficou pensativo. Colocou a mãozinha no queixo e respondeu:
- "Gabiel", ué!
- Muito bem, filho!
- Filho? Não é "Gabiel"?
Não pude evitar de rir.
- Você é meu filho. E você se chama Gabriel. O Gabriel é o meu filho. Entendeu?
- E a Y, quer dizer, a "Uebecca" é seu filho também?
- Não. Ela é minha filhA porque é menina. Você é filhO porque é menino!
- E você?
- Eu sou sua mamãe e da Rebecca também. Meu nome é Elaine.
De Elaine para Mamãe para Enane
- "Enane"?
- Exatamente.
- Então agora é "Gabiel", "Uebecca" e "Enane"?
- Isso mesmo! Muito bem!
- Então eu não posso falar mais W? E também não posso mais falar Y?
- Isso...
- Eu tenho que falar "Gabiel" e "Uebecca"?
- Muito bem!
Ele ficou quieto e envergonhado.
- E mamãe é como? Eu esqueci.
- Elaine.
- Ah, é mesmo! "Enane".
- E como a "Uebecca" vai saber se ela tá "dumino" (dormindo)?
- Ela aprende com o tempo... ela vai crescendo e vai aprendendo.
Terminei de vestí-lo e notava que o sorriso não saía dos lábios dele. A primeira coisa foi pular no chão e começar a mexer em tanto brinquedo, tanta peça, tanta coisa!


Dona Flor ficou fazendo companhia a ele enquanto fui tomar banho.


Chegou outra preocupação: onde dormir? Precisamos ficar os 3 juntos, mas como? Só havia à disposição 3 camas de solteiro e em quartos separados. Não havia outra escolha: eu colocaria 2 colchões de solteiro no chão e dormiria na cama. Logo, não havia problemas com quedas e haveria bastante espaço para eles se mexerem, rolarem.
Quando voltei ao quarto, o Gabriel correu em minha direção:
Dona Fô - a Flor de nossas vidas
- Mamãe, você sabia que a vovó se chama Dona "Fô"? Eu contei pa ela do meu novo nome e ela falou que o nome dela é "Fô". Você sabia, mamãe?
- Nossa, é verdade? Que legal! - o abracei ao mesmo tempo em que o pegava no colo. - Que dia legal, né, Gabriel? Que dia mais feliz!!! Você descobrindo e aprendendo tantas coisas!!!


Relaxada após o banho não pude conter a emoção de ter uma criança no meu colo e poder chamá-la de filho. Um emaranhado de pensamentos tumultuavam a minha mente, mas naquele momento eu aproveitei para sentir aquele corpo quente em volta do meu e o cheiro de bebê que ele exalava. As lágrimas desciam pela minha face sem controle... eu tinha medo do dia seguinte, mas amava aquele momento. Tudo era estranho demais, porém a emoção de ser chamada de "mamãe" apaziguava os ânimos. Tanto o Gabriel quanto a Rebecca já dependiam de mim, era fato. Mas eu ainda não havia me dado conta que eu também já começava a depender deles. O melhor disso tudo? Ah, não tenham dúvidas: havia a aceitação incondicional e o amor inocente dos dois, sem cobranças mesmo que não tivéssemos nenhum vínculo biológico, de sangue, DNA ou umbilical. Nosso vínculo era ingênuo, puro e totalmente espiritual.


Lembro-me que arrumei o quarto ainda com muitas lágrimas nos olhos. Coloquei a pequena Rebecca num dos colchões. Improvisei um abajur e pedi para que o Gabriel se deitasse, mas ele queria ficar ali, brincando. Então me deitei e pensei: bom, uma hora o sono dele chega e ele adormecerá. É muita emoção para uma criança. Provavelmente eu não durma de tamanha ansiedade, mas ele será vencido pelo cansaço, com certeza. Já se passava das 22hs e imaginei que muito em breve ele acabaria cedendo.
E eu esperei, esperei, esperei...
Cochilei. Acordei. Ele ainda acordado.
Esperei, esperei, esperei...
Passou-se uma, duas, três horas.
Esperei, esperei, esperei.
E as horas continuavam passando.
Rebecca e Gabriel - Primeira Noite em Casa
Então, às 3h37min da madrugada vi meu filho, que agora era Gabriel e não W, dormindo sentado. Levantei-me e o coloquei no colchão, próximo à minha filha, que agora era Rebecca e não Y. Agora também existia uma Elaine, que não era mais Nane... era simplesmente e adoravelmente Mamãe.
Deite-me. Apaguei a luz. 
Para mim o dia 23 de Dezembro acabava ali, mas na verdade já estávamos no dia 24 de Dezembro.

Continua...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

NOVA MÃE, NOVO LAR, FILHOS! HEIN?



Estava voltando do supermercado. Parei frente ao portão, procurando a chave para abrir o cadeado e pude ouvir muita conversa e confusão. E pensar que até o dia anterior era o silêncio que predominava naquele lar. Eu podia ouvir os gritos e gargalhadas do W correndo pelo quintal, feliz e livre. Liberdade. Creio que era isso que ele sentia. A trilha sonora ao fundo não poderia ser outra; quando entrei em casa: choro, choro, choro e mais choro da Y.

- Ainda bem que você chegou! Nossa, a fralda dela está ensopadíssima. Essa menina vai ficar assada. Precisa de banho logo. - Dona Flor parecia tão ou mais angustiada que eu.
Coloquei as compras sobre a mesa e peguei a Y no colo. O W já entrou abrindo as sacolas e eu só ouvia aquela sinfonia interminável de: "O que é isso? E isso daqui?"
Sinceridade? Eu não tinha ânimo algum para explicar o que era cada um daqueles itens. Estava cansada, confusa e transpirava muito. Apesar da tempestade ter refrescado o início da noite, provavelmente a sensação térmica beirava os 28 graus.
- Vai dar banho nela que eu converso com o W enquanto guardo as coisas.
- Mãe, agora eu lembrei que não vi banheira. E agora?
- Banheira pra quê? Já já ela cresce e você não vai mais usar. Dá banho na bacia, oras! E com esse calor dá até para dar banho no tanque. Só não dou conselho porque os dois estão com o peito muito cheio. Precisamos depois levá-lo ao pronto socorro. Vamos, filha, coragem! Pega a bacia e dá um banho morninho nela, talvez até acalme a coitadinha. Ela está muito agitada e impaciente. 
Dona Flor é demais! O que seria de mim sem essa mulher brava, valente e guerreira? Ela parecia ter todas as soluções nas mãos e agia com uma paciência invejável. Eu, a mãe da casa agora totalmente perdida e Dona Flor, agora a vovó, pulso firme, concentrada e administradora nata, gerenciando tudo e todos.
E eu fui atrás da bacia de lavar roupas. Levei-a até o banheiro e deixei que ficasse quase cheia de água. Não se iludam... a Y continuava chorando. Tirei a roupa dela. Nossa, que fralda pesada! Quanto xixi!
Y - Primeiro Banho em Casa

Pude então registrar o primeiro momento feliz da minha pequena Y: o choro parou instantaneamente, os olhos cinzas brilharam e um sorriso formou-se em seus lábios - ela descobrira a bacia cheia d´água. Ali, no banheiro, eu vi claramente o que é felicidade de pobre. Assim que a coloquei dentro da bacia o mundo transformou-se para ela. Não tinha brinquedos nem o patinho de plástico, mas eu comprara uma esponja do Bob Esponja e aquilo a divertiu demais. Despejei um pouco de shampoo "sem lágrimas" e ela olhava encantada para a espuma que se formava. Que metamorfose! De onça virou golfinho!
Naquele momento senti o cheiro de mãe. O banheiro todo exalava perfume de bebê; tudo era delicado, gostoso... e ver a Y se divertindo com água e espuma era tão gracioso! Foi um longo banho. Brinquei bastante com ela e senti que estava ficando mais segura e mostrando reciprocidade. Enquanto isso observava a pele dos braços, rostos e muitas cicatrizes de cortes, cirurgias, provavelmente sondas... aquilo me afetava emocionalmente, mas a gargalhada espontânea e inocente dela só me fazia ficar cada vez mais apaixonada!
O banho acabou e então eu pude observar uma criança calma, dócil mas ainda insegura. 
Mal sabia eu que logo viria uma parte tão ruim quanto todas as outras: "Como se coloca a fralda?" Fiquei observando por muitos minutos e tentando resolver uma equação. Para me ajudar, a Y não parava quieta; se mexia, sentava, rolava... mas pelo menos não chorava. Ah, não teve jeito... pedi socorro à Dona Flor, porém, dessa vez fui desapontada.

- Ah, filha, a última fralda que coloquei foi em você há quase 30 anos atrás. E ainda era fralda de pano e calça plástica. Nada de talco... usávamos maisena. Faz assim... eu seguro ela e você tenta colocar.
Hein? Maisena? Calça Plástica? Tá, fralda de pano eu conheço... 30 anos? Nossa, tô ficando velha mesmo!
Peguei a embalagem e revirei de ponta cabeça. Para minha decepção, não havia "manual de instrução" tão pouco "modo de usar". Lascou! E agora? Seja o que Deus quiser! E... "Vai, mãe, segura assim... ih, não tá dando certo... o que eu faço com essa faixa? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!! Inexperiência é  só o que você precisa para transformar sua vida em um caos. De tudo de errado que comprei, o pior foram as fraldas. Tive a infelicidade de optar por uma fralda cretina que nada tinha de prática. Não havia os fechos laterais, na verdade a fralda acompanhava 3 faixas laváveis em velcro, que você passava em volta da cintura do bebê, por cima da fralda e fechava conforme a necessidade. E conseguir deixar um bebê imóvel para era façanha? Uma, duas, três... lá pela vigésima vez, depois de muito xingar e sentir o suor escorrer pela minha face, finalmente eu conseguia colar, ajustar, fechar... às vezes deixava larga demais, às vezes só faltava cortar a Y ao meio de tanto que apertava. Diacho de fralda!!! 
Quer situação pior? Prestem muita atenção: haviam 24 unidades de fraldas descartáveis para APENAS 3 faixas de velcro lavável. Ou seja, as faixas DEVERIAM ser reutilizadas. E quando eu tirava a fralda e esquecia de retirar a "bendita" faixa de velcro e jogava tudo no lixo? Tá pensando? Adivinhou, né? Isso mesmo: revirar o lixo, procurar a fralda, abrí-la, retirar a faixa e lavá-la. Quando a fralda estava apenas com resíduos de xixi, ainda era suportável... e quando a fralda estava premiada com fezes, cocô ou o nome que vocês queiram dar??? Logo no primeiro pacote, fiquei traumatizada. Desculpem, leitores, não vou dizer a marca e/ou fabricante... é bem provável que o problema estivesse comigo e... apenas COMIGO! Mas, ainda bem, os próximos pacotes não eram da mesma marca. Puxa, ninguém merece! Enfim, passou. Mas eu ainda tenho vontade de escrever um post à parte só para falar da desastrosa experiência com a fralda. Ah, claro, não poderia deixar de relatar que, óbvio, não comprei pomada contra assadura! Básico, né?
Terminada a missão impossível de colocar a fralda num bebê, segui caminho para dar banho no W.
Dona Flor e Y - Primeira Refeição em Casa


E, Dona Flor, séculos à minha frente, já havia preparado a papinha da Y. Naquele momento eu gelei. Por que? Oras, mais choro, mais escândalo, mais gritaria. Nãããããão! 
Por incrível que pareça o momento da refeição foi tão ou mais feliz que a hora do banho. Até hoje não sei quem se divertia mais, se era a Y ou a Dona Flor. Sei que ouvia as gargalhadas das duas lá do banheiro. Ah, como isso me acalmava! 


Continua...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

IMAGINE!



O vídeo tem rodado o mundo e feito muito sucesso. Não é à toa; nos faz refletir sobre o que é ou não ser "perfeito".
Estou postando porque conheço algumas mães que tem lutado a cada dia insistentemente para educar, apoiar e tornar seu filho, aquele é visto de maneira diferente pela sociedade, uma pessoa de bem!

Sim, sou uma mãe dessas!







segunda-feira, 3 de outubro de 2011

E AGORA, O QUE É QUE EU FAÇO?



Home Sweet Home.
Lar Doce Lar.
Nem tão doce assim, mas era um lar, enfim.
Abri o portão e deixei que minha irmã entrasse com o W, auxiliando-o a subir as escadas. Entrei na sequência e minha mãe ficou por último. Subi as escadas ainda com a Y nos braços. Parei. Ai, que dor nas costas!!!
O W já começou a dar voltas pelo quintal como se quisesse conhecê-lo. Fazia questão de pisar em todas as poças d´água possíveis.
Minha mãe abria a porta, ainda trêmula e chorosa. O rosto todo vermelho. Entrei com a Y na cozinha e não tinha a mínima idéia do que fazer. Minha mãe a pegou em seus braços e já começou com dengo: “Oh, vovó, eu tava com medo, vovó. Agora eu tenho uma casinha e uma mamãe, vovó.”
Mas, nenhum gesto ou palavra fazia com que a Y tirasse aquela expressão de angústia e aqueles olhinhos avermelhados de tanto chorar. E eu queria chorar por ela e por mim. Ela deveria estar em pânico! Onde estava? O que fariam com ela? Treze meses num hospital, sem poder pegar afinidade ou criar laços afetivos com alguém. Depois cinco meses num abrigo, com outras pessoas, outros estranhos. E agora tinha um trio de choronas e outro lugar desconhecido. Era um tsunami de emoções, nem sempre boas, que pareciam não ter fim. Chamei o W e peguei a Y novamente em meus braços.
- Venham aqui. Vou mostrar a casa para vocês, filhos.
“Filhos”. Como era estranho pronunciar aquela palavra, principalmente no plural.
- É aqui que eu vou morar, mamãe?
- Isso filho. Você, a Y, a vovó, o vovô e eu.
- Vovô? O que é isso?
- É o marido da vovó. Ele está trabalhando. Depois ele vem, tá?
- E o que é marido?
- Depois a mamãe explicar melhor. Vem, vamos conhecer “nossa” casa.
O W soltou uma gargalhada e pulou. Colocou as mãozinhas sobre a boca e sussurrou:
- Ai, que legal! Essa agora é minha casa! É aqui que vou morar! Uma casa! Uma casa! Uma casa pra mim!
E lá fui eu, sentindo um vazio esquisito dentro de mim, mostrando a casa aos dois, já procurando ficar o mais próxima possível e tentando acalmar a Y.
- Aqui é o quartinho de visitas, onde vocês vão brincar e assistir televisão.
Os olhinhos redondos do W brilhavam e a expressão de alegria me tranqüilizou. Nossa, quanta ansiedade e euforia naquele rostinho redondo também. (Puxa, agora parei uns segundos para pensar e notei o quanto foi importante para ele este momento e eu simplesmente não registrei, nem com foto nem com filme! Mas eram tantas coisas a pensar e organizar! Espero que eles me perdoem por isso algum dia).
- Qual o nome disso aqui?
- Isto é um cômodo que é utilizado como quarto. Tem cama pra gente descansar e dormir...
- É aqui que eu vou dormir, mamãe?
- Não. Vocês vão dormir lá em cima, com a mamãe e a vovó.
- Como assim, lá em cima?
- Depois a mamãe explica melhor. Vamos continuar... aqui é a cozinha.
- O que cozinha?
- É outro cômodo da casa onde a gente cozinha, lava louça e come.
- Outro cômbodo? Como assim? O que é?
Ai, começaria outra sessão de “o que é isso”.
- Se a mamãe for explicar tudo agora não vai dar tempo. Vamos ver tudo primeiro e com o tempo você aprende, tá?
- Agora vem a primeira sala, onde a gente faz as refeições e depois a outra sala.
- São dois cômbodos inguais?
E assim fomos... ora a Y ficava calma ora mais agitada.
Depois do home tour, os levei de volta para o primeiro quarto e mostrei alguns brinquedos que eu havia comprado na Rua 25 de Março há uns 5 meses. Lembro-me que fui fazer compras de brinquedos (baratos e educativos) porque acabara de ser demitida e foi uma forma de distrair a minha cabeça e ocupá-la porque já diz o ditado “mente vazia, oficina do diabo”. Jamais imaginaria que as crianças chegariam tão cedo, num prazo de uma gestação! Se não fosse isso, talvez não teria nada para que as crianças se divertissem. Porém nem tudo que eu havia comprado estava dentro da faixa etária delas. Eu não tinha idéia com que idade as crianças chegariam e fiz uma compra variada com brinquedos entre 1 e 7 anos. Ainda tenho alguns itens guardados porque tanto o W quanto a Y não acalcaram a idade.
Aproveitei que os dois se encantaram com aquele mar de peças para montar e fui falar com minha querida Dona Flor.
- Mãe, é de verdade? Eu ainda não consigo me ver como “mãe”.
- Mas precisa ver logo! – acho que levei uma bronca.
- Como assim?
- Filha, percebeu que não tem nada pra criança em casa?
- Mas, mãe, eu comprei os brinquedos, copos, pratos e talheres na 25 de Março, lembra?
Dona Flor me olhou séria, mas mesmo assim mantinha um doce olhar.
- Elaine, filha, agora você tem um bebê; na verdade quase 2 bebês porque o W ainda tem 2 anos, praticamente. Pensou que eles vão usar fralda? E leite? E se o tempo mudar, vai agasalhá-los com o que? Eles vão ficar com essas roupas o resto da vida?
Levei um chacoalhão. Eram duas pessoas a mais na casa. Não tinham chinelos nem escova de dentes. Creme dental, shampoo, condicionador, sabonete agora eram infantis. Epa, onde dormiriam? Sim, havia quarto sobrando, exatamente dois, ou seja, um para cada, mas eram mobiliados com camas de solteiro. Eles ainda eram muito pequenos! E se caíssem? Nossa, quanta coisa! E não importava a quantidade... teria que resolver naquele momento! 
Então... correr para o mercado!!! Opa, mas eu não tenho dinheiro! Calma, pára, pensa, raciocina! E iniciei uma briga comigo mesma: "E a poupança que você fez para eles? Ah, mas eu não quero gastar com isso! Mas eles precisam! Eu não queria que fosse assim! A poupança é para comprar algo legal pra eles, um carro, sei lá! Carro pra eles agora não faz sentido algum! Eu sei, mas... p o r r a... não era pra ser assim! E desde quando a vida é como se deseja? Ah, mas eu planejei, fiz tudo certinho! Pois é, Dona Elaine, aconteceu e dê graças por ter uma poupança exatamente para poder gastar numa hora desta.. Ok, você me convenceu... vou pegar o cartão!"
Segui caminho ao supermercado, em pleno 23 de Dezembro, umas 19h20min. Preciso falar como estava o lugar? Gente, gente, gente! Fila, fila, fila! Opa, mais gente, gente e gente! E fila, fila... ah, cansei de contar! Seja o que Deus quiser! E lá fui eu jogando as coisas no carrinho:
  • Petit Suisse (é, o velho conhecido Danoninho... mas nem quero fazer propaganda... Batavinho, Vigorzinho, Marca Própria, Genéricos);
  • Leite integral;
  • Farinha láctea;
  • Leite fermentado;
  • Leite em pó;
  • Bisnaguinha;
  • Rosquinha de leite, de côco, de milho;
  • Achocolatado e variados de morango, baunilha e caramelo;
  • Creme e escovas dentais infantis;
  • Shampoo, condicionador, creme para pentear, sabonete, colônia, talco, lenços umedecidos;
  • Mamadeira? Não... melhor copo com bico;

Fralda? De que tamanho? "Moça, a gente compra de acordo com o peso da criança" - respondeu uma funcionária. Peso? Como assim? E eu lá sei quanto pesam o W e a Y...
  • Fraldas P, M, G e GG (na dúvida é bom levar todos os tamanhos);
Chinelo? Que número? Hum...
  • Chinelo para ela: 16/17, 18/19, 20/21, 22/23, 24/25 (algum tinha que servir);
  • Chinelo para ele: 22/23, 24/25, 27/28, 29/30 (algum tinha que servir);
Roupas? Ai, meu Deus! Comecei a me perder naquela sessão!!! Números 1,2,3 pensei. Certo? ERRADO!!! Pensei em comprar no "olhômetro", mas também desisti. Preciso contar que parte do que comprei não coube e outra parte ainda nem foi usada? Na verdade eles acabaram ficando com pouquíssimas roupas. Só fui acertar o guarda-roupas depois do Ano Novo porque era uma inferno fazer compras com calma entre do dia 23 e 30 daquele mês.

Para resumir e fechar este post: o dia 23 de Dezembro foi tenso, muito tenso, mas ainda não acabou... foi um dia que me senti grandiosamente incompetente, despreparada, inexperiente. Tive vontade de não voltar para casa, mas não entendo até hoje o motivo. Quando estava na fila do caixa, chorei horrores. As pessoas se preocuparam comigo, queriam ajudar, me deixar passar na frente, mas eu não sabia o que queria; só sabia que não queria chegar logo em casa. Ter que enfrentar uma realidade que não era a minha, ter que lidar com coisas grandiosamente novas, ter que recriar uma rotina e um novo mundo onde não mais existiria um "eu" - agora era "meus filhos e eu" - me deixava extremamente desesperada. Eu alcançara e realizara um sonho, porém naquele instante eu queria estar dormindo e acordar tendo a certeza que tudo fora imaginação. Não adiantava me beliscar; estava anestesiada. Não conseguia e não queria que fosse assim... eu queria estar na minha casa, com tudo mobiliado, comprar tudo o que precisariam sem ter que usar a poupança... eu queria poder comprar do bom e do melhor e tudo que não tive. Era para eu estar feliz e não desapontada daquela forma. A imagem, quase surreal, que se formava na minha mente era: estar ali, no supermercado, com as crianças, felizes, comprando o que elas escolhessem sem me preocupar com o valor e sim com o prazer que cada item proporcionaria para elas; depois pagar, entrar no meu carro e seguir para minha casa, satisfeita, completa, uma mulher de verdade. E todos os sentimentos eram inversos. Sentia-me inútil, vazia, incapaz, diminuída. Não eu não queria lidar com aquilo!





Porém, no mesmo instante me lembrei que tanto o W quanto a Y precisavam de mim.



E segui caminho para casa, mesmo sem saber o que fazer.




Continua...