sábado, 16 de março de 2013

ANJOS TAMBÉM USAM MÁSCARAS


Há muito tempo tenho vontade de escrever um post dedicado aos médicos e médicas, assim como também às enfermeiras e enfermeiros do IAMSPE – Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual – que cuidaram da minha pequena praticamente desde o nascimento. Nunca o fiz porque nunca tive tempo o suficiente, mas não posso negar que sempre me faltou coragem e inspiração porque descrever tudo que esses profissionais fizeram pela vida da Rebecca é também reviver um passado triste, por mais que eu não tenha acompanhado os primeiros 18 meses de vida dela, com muitas dores e que me emociona demais. Porém, após tudo que passei entre os dias 02/Fevereiro e 28/Fevereiro de 2013, notei que eu estava em débito e que era mais do que necessário relatar o que vivenciei não apenas no período de 26 dias, mas também nos últimos 5 meses.

Parte I – O choque e a loucura

Foi no dia 14 de Setembro de 2012, numa consulta de rotina com o Drº Mário Warde confirmou que já era hora de colocar o expansor tecidual (explicarei mais abaixo) para poder mexer no couro cabeludo da minha Rebecca para tentar amenizar as sequelas da queimadura. A notícia me pegou de surpresa até porque sempre ouvi que as cirurgias plásticas aconteceriam somente na pré adolescência, visto que com o crescimento o corpo sofreria mudanças e, automaticamente, também mudaria as sequelas. Mas essa não foi a única surpresa, ou melhor, talvez não houvesse tamanha surpresa caso eu não estivesse num momento financeiro tão caótico. Como o SUS – Sistema Único de Saúde – não dera previsão de quando seria disponibilizada uma doação de um expansor, o medico esclareceu que o momento que a Rebecca vivia era o melhor: além de estar numa idade onde não atrapalharia os estudos, qualquer cirurgia em crianças são bem melhores, já que o organismo reage mais rapidamente. Após essa explicação ouvi uma pergunta clara e objetiva:
“Mãe, você se responsabiliza em comprar o expansor diretamente com o laboratório para que possamos realizar a cirurgia?”
Ora, é evidente que nem cogitei a possibilidade de dizer não.
E o médico me entregou a receita com o tipo e tamanho do expansor, bem como nome do laboratório, endereço e telefone. Antes que eu saísse da sala, ele me disse o valor aproximado do expansor. Foi então que tomei o choque. Tomei o choque porque a loucura já havia sido feita.
Eu disse “sim” com o coração. Eu disse “sim” com emoção. Eu disse “sim” fora da razão. Eu disse sim como qualquer mãe diria: sem avaliar esforços nem meios; apenas considerando o fim.
Saindo do IAMSPE é que comecei a avaliar minha situação financeira. Apesar de já estar há um ano empregada – numa área totalmente diferente na qual sou graduada – eu não tinha nenhuma reserva naquele momento. Não por falta de esforço ou por ter espírito esbanjador. Eu havia voltado com a construção da minha casa, após praticamente quase 2 anos parada. E por um golpe do destino no dia anterior – pasmem, exatamente um dia antes de receber essa proposta – a quantia que eu tinha disponível e que pagaria o expansor sem que eu me estrangulasse foi utilizada para pagar todo o revestimento do meu tão sonhado “Lar Doce Lar”. Ah, se eu tivesse esperado ao menos um dia! Ah, se eu adivinhasse o que seria dito pelos médicos! Ah, se... esquece! O que estava feito estava feito e não havia retorno. 
Choque. Choque. Choque.
Angústia. Desespero. Ansiedade. Medo. Pânico. Tensão. A loucura já estava feita.
Do IAMSPE até chegar em casa – e olha que são três horas – eu só pensava em como conseguiria o dinheiro. Cheguei em casa sem resposta. Não dormi nem obtive resposta. Da minha casa para o trabalho, também não encontrei resposta. No trabalho eu não conseguia pensar em nada até porque tinha apenas uma semana para entrar em contato com o laboratório, verificar estoque, comprar o expansor e voltar ao IAMSPE para marcar a cirurgia. Além disso, também teria que reunir todo o dinheiro. Mas como? De onde? De que forma? Com isso meu desespero e meu medo só aumentavam.