terça-feira, 25 de outubro de 2011

SIGNIFICADOS

Seguindo a ordem cronológica, hoje eu deveria postar a descrição do dia 24 de Dezembro de 2009, porém hoje tenho um motivo muito importante para compartilhar e, aproveitarei também para dar algumas informações.


Hoje é 25 de Outubro. Segue o ano de 2011.
Depois que virei mãe, surgiram tantas novas datas que se tornaram inesquecíveis e eu ainda não sei dizer qual delas é a mais importante.
Exatamente há um ano, ainda pela manhã, lembro-me de estar no Cartório de Pirituba. Ah, fecho os olhos e posso sentir o que sentia naquele dia! Eu era toda ansiedade. Já havia entregue a declaração do Juiz para troca dos nomes e registro das crianças em meu nome. Então eu seria mãe; mãe legal. Era como se eu estivesse há minutos de dar a luz. Talvez, minha ansiedade fosse tão grande ou até maior quanto de uma mulher, na sala de parto, prestes a ter o primeiro filho.

Muitas pessoas tem dúvidas em relação ao registro, quando trata-se de adoção e, principalmente em relação ao nome. Poderei trocar o primeiro nome da criança ou apenas será trocado o sobrenome? O registro novo trará informações que tratou-se de uma adoção? Constará o nome dos pais biológicos? Quanto tempo isso leva? Adotarei uma criança e nem terei direito de escolher um nome?

Sim, eu me fazia as mesmas perguntas antes de entregar o dossiê de adoção no Fórum e definitivamente entrar com processo de adoção. Procurei muitas informações na internet, mas, por mais que eu lesse muitas matérias e declarações falando a respeito da adoção e do registro legal, nada me convencia em 100%. Há muita informação desencontrada na internet e, pasmem, não há nenhum site oficial com aquela tão conhecida sessão FAQ ( Frequently Asked Questions ou Perguntas Mais Frequentes) com as dúvidas e pesquisas mais procuradas. 
Então agora pretendo falar de um momento muito importante na fase da adoção. Nomes e sobrenomes. E aqui não há especulação, visto que eu passei pelo momento e as informações que aqui deixarei são verídicas.

Todo casal ou toda mulher que descobre que está em gestação, provavelmente, a primeira coisa que pensa é: será menino ou menina? Que nome vou dar?
Confesso que muito antes de começar a pesquisar informações sobre adoção senti um pouco de desânimo imaginando que só seria possível trocar o sobrenome da criança. Claro, fui um tanto quanto egoísta porque pensei: "Puxa, já não vou gerar a criança e nem terei direito de escolher o seu nome?"
Mas, para a curiosidade e felicidade de todos que entram no processo de adoção, é possível trocar o nome da criança, sim! É totalmente legal, um direito do adotante. Porém aí, também vale o bom senso. 
Por que bom senso? 
Oras, sejamos sinceros: o nome é tudo o que temos, ele representa não apenas uma identidade, mas um conjunto de cultura, valor e aceitação. Claro, existem milhões de pessoas com o mesmo nome, mas quando você está no seu mundo, no seu círculo de amigos, de colegas de trabalho ou escola você é você por causa do nome. E o nome torna-se mais "único" quando dele acaba sendo criado um apelido carinhoso.
As psicólogas do Fórum onde dei entrada no dossiê de adoção sempre pediam que, antes da mudança do nome, fosse feito um diálogo e uma conversa esclarecedora com a criança (lembram do meu bate papo com o Gabriel), claro, quando ela já possui mais idade e já se identifica com o nome dado pelos pais biológicos, que foi o caso do W. Ele tinha 3 anos e já possuía apego ao nome, entendia que ao pronunciarem "W" era com ele ou dele que estavam falando. 
Tive também, das psicólogas, uma informação muito interessante: em 97% dos casos, quando o adotante quer trocar o nome da criança, ela aceita com a emoção de ganhar um presente. E a frase mais ouvida é: "Pais novos, vida nova, nome novo!" As crianças gostam da troca do nome principalmente porque o vínculo com momentos vividos e que foram considerados tristes, automaticamente são deixados para trás com o nome. Os 3% restantes geralmente não concordam com a troca do nome por não gostar do suposto pelos adotantes. Notei que existe veracidade no fato porque o W aceitou muito rápido o nome Gabriel... ele nunca pronunciou o nome antigo desde que conversei com ele; eu esperava que ele ficaria confuso durante um tempo, mas não... para minha surpresa ele se apegou facilmente ao nome Gabriel. Em relação à Rebecca foi muito mais simples, já que ela não falava.

Sempre pensei em um nome composto, onde eu escolheria um e o outro deixaria para o possível pai escolher, mas infelizmente nenhum homem quis assumir o sonho da adoção comigo. Um nome que sempre tive vontade de colocar em um filho foi Yeshua. Muitos acham que é por motivo religioso, já que Yeshua é Jesus em aramaico, mas, particularmente, não tenho religião, porém gosto muito das parábolas contadas no segundo testamento da Bíblia, que envolvem Jesus, um homem sábio e de coração bom. E foi pensando na personalidade de Jesus e não em religião que há muito tempo surgiu a vontade de dar o nome "Jesus" ao meu filho. Porém não gosto das coisas com significado simples; gosto de deixar mensagens nas entrelinhas ou fazer com que as pessoas procurem descobrir o significado das coisas. Então, depois de muitas pesquisas e estudo, defini que ele se chamaria Yeshua ao invés de Jesus. Fiquei esperando o companheiro, que fosse dividir a escolha do nome e a tarefa de ser pai, mas, não aconteceu. Então precisei pensar em outro nome sozinha. E aí imaginei optar por um nome mais simples, visto que a pronuncia de "Yeshua" não é tão simples (há quem pronuncie Yéshua, Yeshua, quando é Yêshua) e sabia que poderia trazer alguns constrangimentos para ele, principalmente na fase escolar. Eu não tinha nada em mente, então fui atrás dos significados. Logo na primeira busca, encontrei Gabriel, que se encaixava perfeitamente ao já escolhido. Além de tudo era o nome de um anjo. Sim, Gabriel, aquele que anunciou à Maria que ela daria a luz a um menino, o qual deveria chamar Jesus.
E assim ficou escolhido: Gabriel Yeshua.


Gabriel: nome do anjo mensageiro de Deus à Virgem Maria.
Yeshua: origem grega, Jesus, em aramaico, aquele que louva o Senhor.

Confesso que para o nome da menina eu nunca havia pensado em nada já que eu não tinha, de início, pensado em adotar uma menina. Entrei com o processo de adoção para adotar um menino primeiramente. Sim, já havia a intensão de adoção de uma segunda criança, provavelmente uma menina, mas eu só faria isso depois de um tempo que tivesse adotado o primeiro. 
Definitivamente, nada é bem como a gente quer.
Numa das reuniões com as assistentes sociais e psicólogas, mudei todo o meu plano e minha linha de pensamento.
Ouvi relatos e declarações de irmãos que são separados na adoção.
A gente deixa de acreditar na justiça em nosso país depois de vermos tantos e tantos maus exemplos de como se tratar as pessoas, mas, pasmem: há uma grande preocupação do Estado em deixar irmãos juntos porque eles carregam não apenas um laço biológico, mas principalmente dividem uma história, passaram pelas mesmas situações e há uma forte necessidade de continuarem juntos. A separação de irmãos é muito tensa, dolorida e, em muitos casos a adoção acaba não dando muito certo no período de adaptação e guarda provisória. Tanto a criança ou adolescente adotado quanto o que ficou no abrigo esperando sua vez mudam de comportamento e chegam até a entrar num processo de regressão ou paralisia evolutiva. Cada história que eu ouvia fazia meu coração arder e em uns dois ou três casos, sei que fiquei deveras triste.
Naquele momento, fechei meus olhos e pedi silenciosamente que Deus sussurrasse aos meus ouvidos  o que eu deveria fazer. Fiquei muito, muito emocionada e cheguei a chorar. Senti muita paz e uma brisa suave passou pelo meu rosto. Estava decidido: eu adotaria duas crianças. Dois irmãos. Independente dos sexos e das idades. Poderiam ser dois meninos ou duas meninas, quem sabe um casal. Idade? Bem, pelo menos um deles deveria ter menos que 5 anos, o outro, não importaria. Pois bem... olha o que o destino me aprontou: fiquei na fila de espera por 36 semanas (9 meses, uma gestação) e digo que fui premiada com um casal, ambos com idade inferiores a 5 anos. Quando recebi a notícia de que teria uma menina, comecei outra pesquisa para determinar o nome.

Bom eu já tinha o Yeshua. Pensei em escolher um nome feminino que trouxesse uma ligação com Jesus. Logo, impossível não pensar em Maria. Sim, Maria, definido. Mas, eu escolhera Yeshua, em outro idioma (idioma antigo) e fui procurar Maria no mesmo idioma, mas não gostei da pronúncia. Então encontrei "Mariamne", que é Maria em grego. E logo havia definido o segundo nome. Mais uma vez pensei no constrangimento em período escolar. E fui em busca de um nome mais simples, mais comum... e dessa vez escolheria o nome unicamente pelo significado, não tentaria manter um elo como fiz em "Gabriel Yeshua". Fiquei por dias fazendo pesquisa de nomes unicamente pelo seu significado. E, encontrei o significado que tinha tudo a ver com aquele momento. Para minha surpresa, o nome era Rebecca, um nome bíblico também. Logo eu que não sigo religiões nem acredito em igrejas. Mas, o significado continha tudo o que eu queria e ficou decidido que seria Rebecca, Rebecca Mariamne.

Rebecca: aquela que une.
Mariamne: origem grega, que é Maria, significa senhora soberana.



Então, no dia 25 de outubro de 2010 nasciam legalmente e definitivamente meus filhos, com os nomes que eu escolhi e com meu sobrenome.