Mais uma vez sou pega de surpresa com uma pergunta das
crianças.
O Gabriel aproxima-se de mim:
“Mãe, o que é madrinha?”
Crianças e suas perguntas inesperadas.
“Por que você quer saber?”
“Meus amiguinhos na escola sempre falam das suas madrinhas e
dos seus padrinhos e eu não entendo o que é isso.”
“Eu também não sei. “ –completou a Rebecca.
“Padrinho e madrinha são pessoas que os pais escolhem para
estarem com as crianças em momentos bons ou ruins, para serem amigos, para
ajudarem na educação e para amar nossos filhos tanto quanto a gente. Geralmente
os padrinhos são escolhidos no batizado.”
“O que é batizado?” – perguntou a Rebecca assustada.
“Batizado é uma espécie de reunião para apresentar a criança
à igreja ou a Deus. Cada religião tem o seu tipo de batizado. Uns batizam as
crianças quando são bebês, outras religiões batizam adultos.” – respondi, ainda
meio constrangida, porque eu sei que quanto mais explico, mais perguntas
aparecem.
“E a gente foi batizado?” – perguntou o Gabriel.
“Não. A mamãe não tem religião, não segue nenhuma igreja.”
“Então é por isso que a gente não tem madrinha nem padrinho?”
– indagou a Rebecca.
Era a pergunta que eu mais temia.
“Bom, quando vocês chegaram do abrigo, a mamãe escolheu uma
madrinha e um padrinho para cada um.” – que vontade de não ter respondido.
“Ué, e quem são? Porque eu nunca vi!!!” – Rebecca mostrou-se
indignada.
Ai, ai... que saia justa... o que responder??? Bem, não
havia outro modo se não dizer a verdade.
“Vocês não lembram porque eles só vieram visita-los quando
vocês chegaram do abrigo, depois quando nós fizemos 1 ano juntos e no niver da
Becca. Por isso vocês não lembram.”
Eu já estava ficando constrangida e lá vinha mais uma
pergunta:
“Ué, mamãe, eles não gostam da gente?” – era a voz do
Gabriel.
“Claro que gostam!”
“Então porque eles nunca vem visitar a gente?” – agora era a
Rebecca.
Fiquei muda. Os pensamentos foram a milhão. Eu pensava em milhões
de respostas, mas nada saía dos meus lábios. Então, procurando amenizar o
desconforto, respondi sinceramente:
Será que escolhi mesmo? |
“As pessoas são ocupadas, crianças. Eles tem a vida deles, a
família deles, a casa deles.
Eles não tem tempo, vai ver que é isso.”
“Eu, hein, credo! Não tem tempo nem pras crianças? – Rebecca
disse ríspida, com tom magoado.
O Gabriel ficou em silêncio, mas demonstrou leve tristeza.
“E tem outra coisa. A mamãe os convidou por consideração e
porque a mamãe gostava muito deles. Mas vocês não foram batizados. E como eles
são bem fiéis à igreja católica, talvez não se sintam à vontade para apadrinha-los.”
“E por que você não batizou a gente, mamãe?” – outra pergunta
do Gabriel.
“Eu já disse que não sigo nenhuma religião e decidi esperar
vocês crescerem para escolher a religião e a igreja que vocês quiserem.”
“Credo, se não quis ser nosso padrinho ou nossa madrinha só
porque não fomos batizados, deveriam ter falado, ué. Aí você escolheria outros.”
– dizia a Rebecca em tom de bronca.
Não havia mais nada a ser dito, então decidi encerrar o assunto.
“Esqueçam isso! Deixem isso pra lá! Não tem importância! Tá
fazendo falta, não, né?
Tanto faz se vocês tem padrinho e madrinha... e vamos
fazer de conta que vocês não tem. Pronto! Resolvido o problema!”
“Então você vai escolher uma
nova madrinha e um novo padrinho?” – perguntou a Rebecca ansiosa.
“Chega! Não quero mais falar sobre isso! Eu já disse que
isso não tem importância, que não está fazendo diferença e que as pessoas são
muitas ocupadas. Quando vocês crescerem e, se vocês quiserem, escolherão padrinhos e madrinhas!”
Logo eles esqueceram o fato e voltaram às suas atividades.
Ainda bem que nunca cobrei nada dos padrinhos/madrinhas que
escolhi. Apenas os deixei livres para criar uma relação com minhas crianças, o
que não aconteceu. Provavelmente se eu tivesse forçado alguma coisa, meus
filhos estariam bem chateados agora.
Agradeço, principalmente, o fato dos meus filhos não se
lembrarem dos padrinhos/madrinhas escolhidos porque agora tudo fica mais fácil.
A vida segue! Assim como faço de tudo para que eles não
sintam falta de um pai, a presença ou não de um padrinho ou madrinha também
não!