segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

DINDA?

Mais uma vez sou pega de surpresa com uma pergunta das crianças.

O Gabriel aproxima-se de mim:

“Mãe, o que é madrinha?”

Crianças e suas perguntas inesperadas.

“Por que você quer saber?”

“Meus amiguinhos na escola sempre falam das suas madrinhas e dos seus padrinhos e eu não entendo o que é isso.”

“Eu também não sei. “ –completou a Rebecca.

“Padrinho e madrinha são pessoas que os pais escolhem para estarem com as crianças em momentos bons ou ruins, para serem amigos, para ajudarem na educação e para amar nossos filhos tanto quanto a gente. Geralmente os padrinhos são escolhidos no batizado.”

“O que é batizado?” – perguntou a Rebecca assustada.


“Batizado é uma espécie de reunião para apresentar a criança à igreja ou a Deus. Cada religião tem o seu tipo de batizado. Uns batizam as crianças quando são bebês, outras religiões batizam adultos.” – respondi, ainda meio constrangida, porque eu sei que quanto mais explico, mais perguntas aparecem.

“E a gente foi batizado?” – perguntou o Gabriel.

“Não. A mamãe não tem religião, não segue nenhuma igreja.”

“Então é por isso que a gente não tem madrinha nem padrinho?” – indagou a Rebecca.

Era a pergunta que eu mais temia.

“Bom, quando vocês chegaram do abrigo, a mamãe escolheu uma madrinha e um padrinho para cada um.” – que vontade de não ter respondido.

“Ué, e quem são? Porque eu nunca vi!!!” – Rebecca mostrou-se indignada.

Ai, ai... que saia justa... o que responder??? Bem, não havia outro modo se não dizer a verdade.

“Vocês não lembram porque eles só vieram visita-los quando vocês chegaram do abrigo, depois quando nós fizemos 1 ano juntos e no niver da Becca. Por isso vocês não lembram.”

Eu já estava ficando constrangida e lá vinha mais uma pergunta:

“Ué, mamãe, eles não gostam da gente?” – era a voz do Gabriel.

“Claro que gostam!”

“Então porque eles nunca vem visitar a gente?” – agora era a Rebecca.

Fiquei muda. Os pensamentos foram a milhão. Eu pensava em milhões de respostas, mas nada saía dos meus lábios. Então, procurando amenizar o desconforto, respondi sinceramente:
Será que escolhi mesmo?

“As pessoas são ocupadas, crianças. Eles tem a vida deles, a família deles, a casa deles.
 Eles não tem tempo, vai ver que é isso.”

“Eu, hein, credo! Não tem tempo nem pras crianças? – Rebecca disse ríspida, com tom magoado.

O Gabriel ficou em silêncio, mas demonstrou leve tristeza.

“E tem outra coisa. A mamãe os convidou por consideração e porque a mamãe gostava muito deles. Mas vocês não foram batizados. E como eles são bem fiéis à igreja católica, talvez não se sintam à vontade para apadrinha-los.”

“E por que você não batizou a gente, mamãe?” – outra pergunta do Gabriel.

“Eu já disse que não sigo nenhuma religião e decidi esperar vocês crescerem para escolher a religião e a igreja que vocês quiserem.”

“Credo, se não quis ser nosso padrinho ou nossa madrinha só porque não fomos batizados, deveriam ter falado, ué. Aí você escolheria outros.” – dizia a Rebecca em tom de bronca.

Não havia mais nada a ser dito, então decidi encerrar  o assunto.

“Esqueçam isso! Deixem isso pra lá! Não tem importância! Tá fazendo falta, não, né?
 Tanto faz se vocês tem padrinho e madrinha... e vamos fazer de conta que vocês não tem. Pronto! Resolvido o problema!”

“Então você vai escolher uma  nova madrinha e um novo padrinho?” – perguntou a Rebecca ansiosa.

“Chega! Não quero mais falar sobre isso! Eu já disse que isso não tem importância, que não está fazendo diferença e que as pessoas são muitas ocupadas. Quando vocês crescerem e, se vocês quiserem, escolherão padrinhos e madrinhas!”

Logo eles esqueceram o fato e voltaram às suas atividades.

Ainda bem que nunca cobrei nada dos padrinhos/madrinhas que escolhi. Apenas os deixei livres para criar uma relação com minhas crianças, o que não aconteceu. Provavelmente se eu tivesse forçado alguma coisa, meus filhos estariam bem chateados agora.

Agradeço, principalmente, o fato dos meus filhos não se lembrarem dos padrinhos/madrinhas escolhidos porque agora tudo fica mais fácil.


A vida segue! Assim como faço de tudo para que eles não sintam falta de um pai, a presença ou não de um padrinho ou madrinha também não!