segunda-feira, 25 de julho de 2011

COMPREENSÃO


Talvez a maioria de nós, ou sejamos francos, todos nós já ouvimos e dissemos:"Ah, quanto exagero! São crianças e crianças não entendem! Crianças são assim... são crianças e pronto! Daqui a pouco ele(a) esquece!"
Pergunto a você: ao invés de mergulhar no mundo da criança, você já permitiu, alguma vez, que ela, ao menos, chegasse próximo ao seu?
Muito antes da decisão pela adoção pensei, estudei, observei pessoas criando seus filhos e cada jeito particular em educá-los. Pelo incrível que pareça, não sigo nenhum deles.
Na minha pobre opinião, a educação deve partir exclusivamente da CONFIANÇA. Se a criança confia em você, logo enxerga um amigo, um porto seguro. A criança precisa respeitá-lo e a criança só respeita aquele em que ela confia; e se respeita, obedece e compreende seus limites.
A cada dia que passa tenho a maior convicção de que isso realmente funciona. Em quase dois anos de vivência com meus filhos, já tive várias demonstrações de confiança que geraram compreensão e respeito.
A mais recente foi a da última semana, onde prometi levá-los ao Jardim Zoológico no sábado, imaginando que a metereologia continuaria firme como nos dias que antecederam o sábado.
E a sexta-feira chegou, com chuva, cinzenta e ao passar do dia a temperatura só caía. E na fé e expectativa de que tudo fosse melhorar, não queria pensar na hipótese de ter que cancelar o tão esperado passeio.
Cheguei em casa já no início da noite e, antes que o Biel e a Becca pudessem me seguir, fui acessar a milagrosa internet para ver a previsão do tempo. Mas não houve milagre. Para o dia seguinte havia previsão de garoa durante todo o dia e, ainda por cima, temperaturas entre 11ºC e 15ºC.
Então segui caminho até o quarto de brinquedos, ainda sem ter nada ensaiado para falar. Lembro-me de um agradável abraço conjunto e mil beijos pelas faces. Ouvia as risadas e assistia uma cena tão linda: sorrisos de canto a canto da boca, olhos brilhantes e aquela expressão ingênua de felicidade, aquela felicidade simples. natural, doce, leve, infantil, inocente. E, antes que meu coração ficasse mais apertado, comecei:
- Filhotes, a mamãe precisa conversar com vocês. É sobre o passeio ao Zoológico. Você notaram como esfriou? Hoje a vovó nem deixou vocês brincarem no quintal, não foi? Se o tempo continuar assim, vai acontecer a mesma coisa com os bichos do Zoológico: eles não vão sair de suas casas...
- A vovó não vai deixar eles irem no quintal também? - perguntou Rebecca desconfiada.
Não houve como prender minha gargalhada!
- Não, Becca. A vovó não manda nos bichinhos do Zoológico. Acontece que quando está frio ou chovendo eles não saem de dentro de suas casas para não ficarem dodóis. Eles preferem ficar quietinhos e quentinhos dentro da casinha do que passear no quintal. Aí o que acontece? A gente não consegue ver nenhum bichinho porque eles ficam escondidos.
O Gabriel olhou para os lados, ficando pensativo. (Adoraria saber o que se passava naquela cabecinha!)
- Então quer dizer que se amanhã o tempo não estiver bonito, calor e sem sol a gente não vai, mamãe?
- Isso, filhote! - meu coração em pedaços. - O que a gente vai fazer lá pra não ver nenhum bichinho?
- Mas e se a gente chama assim: "Oh, leão, vem aqui pra ver a Becca e o Biel! Ei, dona girafa, sai só um pouquinho pra gente te ver!" - indagava a Rebecca desesperada.
- Mas os animais não ententem o que a gente fala, amor!
Ambos abaixaram as cabeças e eu logo esperei lágrimas... mas não, mesmo com olhares decepcionados, ouvi o Gabriel dizer calmamente:
- Tá bom, mamãe.
- Aí a gente só vai quando tiver solzão e calor? - pergunta a Rebecca.
Suspirei fundo e procurei amenizar o choque da notícia:
- Vamos combinar assim: se amanhã, quando acordarmos estiver um dia bonito e com sol, nós vamos tá?
- Tá bom. - disseram os dois ao mesmo tempo, quase sorridentes.
E assim, dormimos.
No sábado, antes das 7 horas da manhã, estavam os dois aos pés da minha cama, despenteados e de pijama.
- Mamãe, o tempo tá bom?
O frio ainda permanecia no ar e o céu estava nublado, só não chovia. Não fomos ao Zoológico. E não houve cara feia, choro, escândalo ou gritaria, essas "coisas de criança". Eles ficaram ali, apertados, deitados comigo, na minha cama de solteiro, que nunca havia percebido o quanto era pequena.

Notaram que fiz com meus filhos? Eu poderia tratá-los como crianças, apenas crianças, que são assim mesmo. Poderia ter contato a eles uma história fantasiosa apenas para mostrar-lhes a possibilidade de passeio cancelado. Poderia ter mentido e, depois eles esqueceriam, exatamente porque são crianças e crianças são assim e pronto!
Eu preferi utilizar outro recurso e tratá-los como pequenos adultos. Numa relação, o diálogo não é a base para tudo? E é exatamente assim que lido com meu filhos. Diálogo. Diálogo e verdade. Desde que os conheci, coloquei em primeiro plano a verdade. Fiz uma promessa comigo mesma que jamais os trataria a base de qualquer mentira, por menor que ela fosse para eles. Tanto o Gabriel quanto a Rebecca enfrentarão grandes verdades daqui a alguns anos e o que desejo é que confiem em mim e me vejam não simplesmente como uma "mãe", mas, principalmente como uma verdadeira amiga. Como poderemos ter uma relação saudável, madura e de confiança se eu não começar agir assim desde o "nosso início"? 
E eu tenho esse cuidade diariamente, em todos os minutos do dia. Sim, Gabriel Yeshua e Rebecca Mariamne são crianças, mas eu posso aproximá-las ao meu mundo vagarosamente, impondo confiança. Confiança que só nos ajudará a crescer como pessoas; confiança que nos levará à compreensão, independente da situação.