segunda-feira, 26 de março de 2012

CONFISSÕES DE SAUDADE


Hoje, enquanto eu preparava o leite com chocolate para minha pequena, notei que estava quietinha, Pensativa e com olhar distante. O Gabriel se comportar assim, até compreendo, visto que ele é mais introspectivo, mas dona Rebecca, a bagunça em pessoa que acorda 6hs da manhã me provocando e desafiando a cantar "Có có ri có qué cocoricá lá no Japão" ficar inerte sem motivo não é comum!
Aproximei-me da mesa e perguntei:
"O que foi, Becca?"
Os olhinhos marejados me fitaram:
"Mamãe, cadê o Zé?"
O Zé, ou José Roberto Siqueira, é um amigo que acompanhou todo o processo de adoção.
"Eu gosto do Zé! Eu tô com saudade do Zé, mamãe!"
Bom, a melhor maneira de ganhar confiança com uma criança é sempre, por mais dura que seja, lidar com a verdade. SEMPRE.
"Filha, o Zé tá namorando. E como ele trabalha e namora, fica sem tempo para nós."
"Mas eu gosto do Zé!"
"Eu sei, filha. Mas o Zé agora vai visitar a namorada dele quando não está trabalhando."
Ela torceu o bico e fechou a cara.
"Então por que você não me leva na casa dele?"
Senhor!!! Parece que quanto mais a gente explica, mais dúvida surge!!!
"Ora, Becca. A namorada dele não vai gostar..."
"Mas, por que, mamãe, se o Zé é meu amigo?"
"Becca, a mamãe não sabe. A fase do Zé passear com a gente, vir aqui já acabou. Agora ele tem que trabalhar, cuidar da namorada dele, ir na casa dela, passear com ela... não sobra mais tempo pra gente. Você tem que entender!"
"Ah, eu gosto do Zé! Ele que me deu a boneca "peta", o escorregador de cachorrinho, os móveis das "pincesas"... e o Zé me pega no colo e "binca" comigo. O Zé me levava no "abigo". Eu já fui na casa do Zé. O Zé me deu aquelas "futas pequeninha e peta". O Zé é tão legal."
" A mamãe sabe que ele é legal, Becca. Mas a namorada dele vai ficar muito brava com ele e com a mamãe. Não pense mais nisso."
Ela trocou o semblante bravo de lado e deixou uma expressão facial de profunda decepção. E eu nada pude fazer.
Por que, nós, adultos, dotados de "experiência" e "sapiência" somos assim, tão volúveis? Por que damos prioridade para uma um determinado momento e tão rápido esquecemos que ele passou e acabamos por suprí-lo por algo novo?
Não, não estou atirando pedras, afinal de contas, tenho um teto de vidro, de cristal, na verdade.
Só quero mesmo compartilhar o quão maravilhoso é uma criança em nossas vidas. Elas mudam tudo, nos mudam, nos moldam, nos ensinam, nos fazer enxergar o que definitivamente tem valor: o amor, a amizade e o carinho. O resto... bem, o resto é resto...
E como mãe, agora noto como é cruel decepcionar uma criança.
Não faça isso jamais, não permita que isso ocorra!

Elaine Santos de Andrade