Ontem foi o primeiro dia de aula
da Rebecca.
Até que enfim!
Desde que anunciei que havia feito
a matrícula na escolinha o assunto em casa não era outro. Dia e noite. Noite e
dia. Houve até uma noite em que ela
acordou desesperada falando que estava atrasada.
Claro que a mamãe babona aqui
ficou em pânico imaginando milhões de coisas. Era a primeira vez que a pequena
Rebecca ficaria longe de mim, dos meus cuidados ou da avó. Como seria a reação
dela dentro de um ambiente novo estando completamente sozinha? Encararia isso
num boa ou encararia como mais uma batalha na vida? Seria dócil ou hostil? E
como as outras crianças a tratariam? Como seria a reação das demais crianças em
relação à ela? As crianças se comportariam como muitos dos adultos injustos e
que atiram pedras se esquecendo que também tem teto de vidro? Seria ela vista
como uma aberração? Seria motivo de chacota? Oh, Deus... tão pequena e já
precisando encarar esse mundo podre e cruel... eita... olha eu querendo cobri-la
com minhas asas, por mais quebradas que estejam... porém era preciso deixar de
lado o papel de mãe coruja e tornar-me mamãe águia, que empurra seus filhotes
do ninho para que aprendam a voar sozinhos...
E lá fui eu acompanhar minha
pequena em seu primeiro dia de aula.
Rebecca ansiosa e eu apreensiva.
Rebecca com um sorriso nos lábios
e eu com o coração partido.
(Como mãe é besta!!!)
Depois de ficarmos quase 40
minutos no ponto de ônibus, finalmente conseguimos entrar em um “menos vazio”.
Depois que descemos, comecei a explicar como seria o dia:
“Já estamos chegamos na
escolinha, Becca. Você sabe que ficará lá sozinha, né?”
Ela virou os olhos e a expressão
da face me dizia subliminarmente: “Que saco!”
“Eu sei, mamãe.”
E meu discurso de conforto
continuou:
“Você sabe que a mamãe vai
trabalhar agora e que você voltará para casa de perua, né?
“Tá bom, mamãe!”
E mal o portão se abriu e ela
entrou, puxando a mochila tão pesada quanto ela.
É isso mesmo... ela saiu sem nem
olhar para mim e sem se despedir.
Eu, no desespero de mãe, entrei
pelo portão, implorando:
“Filha, cadê o beijo e o abraço
da mamãe?”
Eis que ela virou-se, fechou a
cara e disse em tom forte e em advertência:
“Opa, volta, mamãe. Você não pode
entrar aqui. Aqui é lugar de criança e adulto não entra. Entra sim, mas só as
professoras. Eu beijo você lá fora.”
...
...
...
Como eu fiquei?
Oras, como vocês acham??? Sem
graça, com cara de tacho e com as bochechas rosadas e quentes...
A professora que estava no portão
caiu em gargalhada.
Minha vontade foi de sair, mas
correndo dali, para esconder a vergonha.
Serenamente ela se aproximou,
abraçou minha perna e me deu um beijo na face.
Novamente, me deu as costas como
resposta e complementou:
“Bom trabalho, mamãe! Até de
noite!”
E minha cara de tacho permaneceu
enquanto ela arrastava a mochila e se dirigia à sala.