terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

INÍCIO DE AULAS - PARTE I


Ontem foi o primeiro dia de aula da Rebecca.
Até que enfim!
Desde que anunciei que havia feito a matrícula na escolinha o assunto em casa não era outro. Dia e noite. Noite e dia.  Houve até uma noite em que ela acordou desesperada falando que estava atrasada.
Claro que a mamãe babona aqui ficou em pânico imaginando milhões de coisas. Era a primeira vez que a pequena Rebecca ficaria longe de mim, dos meus cuidados ou da avó. Como seria a reação dela dentro de um ambiente novo estando completamente sozinha? Encararia isso num boa ou encararia como mais uma batalha na vida? Seria dócil ou hostil? E como as outras crianças a tratariam? Como seria a reação das demais crianças em relação à ela? As crianças se comportariam como muitos dos adultos injustos e que atiram pedras se esquecendo que também tem teto de vidro? Seria ela vista como uma aberração? Seria motivo de chacota? Oh, Deus... tão pequena e já precisando encarar esse mundo podre e cruel... eita... olha eu querendo cobri-la com minhas asas, por mais quebradas que estejam... porém era preciso deixar de lado o papel de mãe coruja e tornar-me mamãe águia, que empurra seus filhotes do ninho para que aprendam a voar sozinhos...
E lá fui eu acompanhar minha pequena em seu primeiro dia de aula.
Rebecca ansiosa e eu apreensiva.
Rebecca com um sorriso nos lábios e eu com o coração partido.
(Como mãe é besta!!!)
Depois de ficarmos quase 40 minutos no ponto de ônibus, finalmente conseguimos entrar em um “menos vazio”. Depois que descemos, comecei a explicar como seria o dia:
“Já estamos chegamos na escolinha, Becca. Você sabe que ficará lá sozinha, né?”
Ela virou os olhos e a expressão da face me dizia subliminarmente: “Que saco!”
“Eu sei, mamãe.”
E meu discurso de conforto continuou:
“Você sabe que a mamãe vai trabalhar agora e que você voltará para casa de perua, né?
“Tá bom, mamãe!”
E mal o portão se abriu e ela entrou, puxando a mochila tão pesada quanto ela.
É isso mesmo... ela saiu sem nem olhar para mim e sem se despedir.
Eu, no desespero de mãe, entrei pelo portão, implorando:
“Filha, cadê o beijo e o abraço da mamãe?”
Eis que ela virou-se, fechou a cara e disse em tom forte e em advertência:
“Opa, volta, mamãe. Você não pode entrar aqui. Aqui é lugar de criança e adulto não entra. Entra sim, mas só as professoras. Eu beijo você lá fora.”
...
...
...
Como eu fiquei?
Oras, como vocês acham??? Sem graça, com cara de tacho e com as bochechas rosadas e quentes...
A professora que estava no portão caiu em gargalhada.
Minha vontade foi de sair, mas correndo dali, para esconder a vergonha.
Serenamente ela se aproximou, abraçou minha perna e me deu um beijo na face.
Novamente, me deu as costas como resposta e complementou:
“Bom trabalho, mamãe! Até de noite!”
E minha cara de tacho permaneceu enquanto ela arrastava a mochila e se dirigia à sala.