segunda-feira, 20 de julho de 2015

PRÉ CONCEITO OU FALSO MORALISMO?

Parece que nos últimos meses, o mundo foi milagrosamente “infestado” por moralistas, puritanos e seres politicamente corretos que conseguem ser formadores de opinião, por mais vazias que estas sejam. Penso: do que as pessoas são capazes para chamar atenção e conquistar o maior numero de “curtidas” possível nas redes sociais?

Desde que a empresa O Boticário lançou a propaganda para o Dia dos Namorados com casais homoafetivos li e ouvi de tudo!!! De repente todos nos tornamos pessoas perfeitas, cheias de valores, índoles e caráter incontestáveis. Oh, como uma empresa poderia atacar a família? Como uma propaganda pode simplesmente, em um VT de 30’ denegrir e acabar definitivamente com a família?

Depois de ter visto a propaganda com meus filhos (o que causou inúmeras perguntas por parte deles) só consegui ter a plena certeza que a “família” está destruída há décadas. E, pasmem, não foram gays, lésbicas, bissexuais, travestis que destruíram a “família”! Foram os casais héteros que levaram a “clássica família” para o buraco. Foram os pais de família alcoólatras héteros que espancaram suas esposas e filhos, foram as mães de família héteros que traíram seus esposos, foram pais e mães héteros inconsequentes que não deram educação, proteção, amor e deixaram de criar laços afetivos e estrutura psicológica para seus filhos. Foram pais e mães héteros que não deram alicerce ou formaram o caráter de seus filhos. Desculpem-me os hipócritas, mas não foi a propaganda que O Boticário veiculou que rompeu com a sociedade. Foi a própria sociedade e sua hipocrisia que denegriu, quebrou e destruiu o valor do conceito família. Assisti por varias vezes o VT e só pude observar uma coisa: o amor e a dissipação do respeito. E é o amor que faz o ser humano melhor; é o amor que gera caráter, índole, estrutura. Não importa a forma de amor.

Mal passamos pelo “choque” com a propaganda lançada pelo O Boticário, me deparei com a propaganda da mesma empresa para o Dia dos Pais. O tema agora é adoção. É, adoção, aquilo que poucos queremos ouvir ou discutir. Adoção, que o próprio Estado dá as costas. Eu, na minha ignorante inocência, observei novamente a mensagem de amor e, confesso, me emocionei com o encontro da criança (já numa adoção tardia) com os pais.

Não bastou muito tempo para que os geniais filósofos de merda começassem a fazer comparações com a propaganda lançada já há algum tempo pela Coca-Cola, que também abordou o tema adoção. Depois de ler tantos absurdos por twitteiros, blogueiros e filósofos de Facebook, senti-me quase que na obrigação de expor minha opinião sobre um assunto. E, desta vez, falo como publicitária e mãe adotiva.

Como consumidora, não gosto dos produtos Cola-Cola, sejam refrigerantes, sucos, energéticos e derivados. Não, não odeio a empresa. Simplesmente seus produtos não estão dentro da gama de produtos que confio, gosto ou incluiria na alimentação da minha família (família esta que também não é nada tradicional, vista que sou mãe solteira e adotiva). Em termos técnicos, não faço parte do “target” da empresa. Mas, como publicitária, não posso deixar de admirar, aplaudir e tirar o chapéu para suas campanhas publicitárias. Não é a toa que é a marca mais valiosa do mundo! Coca-Cola não vende refrigerantes – ela vende emoções, sonhos, sensações, status, esperança, proteção, alegria. Coca-Cola é formadora de grupos sociais, interação entre eles. Mais uma vez quero deixar claro que não falo do produto, falo da empresa.

Por que falei tanto da Coca Cola? Porque O Boticário está passando pelo mesmo nível de criticas. E agora, vou falar como mãe adotiva...

Li em blog e no Facebook, que, assim como a propaganda da Coca-Cola, a propaganda dO Boticário é, mais uma vez preconceituosa. Alegam que ambas as empresas criaram um “estereótipos” tanto para o adotante como para o adotado. Estão criticando a campanha porque colocam casais brancos adotando crianças negras. Vi e revi a propaganda e não consigo ver outra mensagem senão a de que ADOÇÃO não é um bicho de sete cabeças. Que o assunto deve ser discutido e falado com a maior naturalidade. Não somos todos iguais, mas nem perante a lei! Mas devemos nos respeitar, aceitar nossas origens, sejam elas negras, asiáticas, nordestinas, brancas e acreditar que o amor é o que nos torna dignos, seja ele vindo de maneira tardia, de família com dois pais, duas mães, de mães ou pais solteiros, de pobres ou ricos.

Meus Deus, tudo agora é preconceito, racismo, assédio moral e sexual! Tudo agora é deturpação da moral e da ética e dos valores!

Alguém, que está criticando ambas as campanhas já se informou sobre o assunto? Alguém já foi visitar um abrigo para ver a realidade? Será que nunca perceberam a miscigenação do nosso país? O que há mais no Brasil: brancos ou pardos? Brancos ou mulatos? Brancos ou negros? Será que só eu percebo que os brancos não são a maioria por aqui?

Digo mais: alguém sabe por que há mais adotantes do que crianças a serem adotadas? Alguém imagina por que os processos de adoção duram em média 4 anos? Concordo que são nossas leis e burocracias, os processos burros e retrógrados assim como arcaicos, porém o que mas faz a adoção ser demorada em nosso país são por causa das pessoas. Exatamente: os casais querem crianças brancas, perfeitas, na maioria meninas e bebês. A minoria insignificante aceita crianças negras, maiores de 7 anos, com problemas físicos ou mentais (por menor que estes sejam). A sociedade ainda o pensamento utópico de formar uma família típica como nos comerciais de margarina!

E aí, onde está o estereótipo criado tanto pela Coca-Cola quanto pelo O Boticário? É a Coca-Cola ou O Boticário que são racistas ou é a sociedade em que vivemos? Isso é preconceito ou realidade?

Ainda sonho com alguma empresa tenha coragem para falar do mesmo tema e ainda colocar crianças negras ou com deficiências físicas e mentais!

Vamos, falsos moralistas, abram suas mentes e encarem as verdades cotidianas ao invés de querer jogar preconceitos que vocês mesmos tem nas mãos de empresas que estão escancarando e trazendo à tona assuntos que estamos todos tentando fingir que não existem ou que não nos afetam diretamente.
Ninguém está destruindo a família, ninguém está sendo preconceituoso a não sermos nós mesmos!

Vocês é que não tem coragem de dar a cara a tapa e ficam se escondendo através de falácias conservadoras.

Continuarei aplaudindo de pé atitudes de empresas como as que mencionei. Empresas que mostram a realidade, pregam o amor, independente de como seja essa forma de amor.

Menos hipocrisia, por favor!