Posso dizer que o primeiro ato foi apresentado.
Ainda tem muita coisa para ser escrita e muitos momentos a serem compartilhados. Espero que continuem lendo...
Ainda tem muita coisa para ser escrita e muitos momentos a serem compartilhados. Espero que continuem lendo...
Não sei quantas caixas de lenços ou quantos rolos de papel higiênico consumi aquele dia, tentando enxugar as lágrimas que escorriam sem parar.
Então Dona Flor entrou na sala. Claro, com lágrimas nos olhos. Ficou imóvel. Olhou para os quatro cantos até que encontrou o W e a Y. De súbito, levou as mãos à boca, como se quisesse esconder a surpresa que tivera. Nossos olhos se encontraram e eu deixei um sorriso escapar mesmo no meio de tantas lágrimas.
- Quem é você? - perguntou o W.
- Eu? Eu... eu... eu sou a... eu sou... eu sou a mãe dela. - e apontou para mim.
- Mas o que você é minha? - insistiu o W.
Minha mãe me olhou espantada e eu fiquei imaginando a resposta que ela daria.
- Como assim?
O pequeno W colocou as mãos na cintura, olhou para o teto com aquela expressão de indignação.
- Ué, se ela vai ser a minha mamãe, você vai ser o que "de mim"? Você tá falando que é a mamãe dela então quer dizer que eu vou ter duas mamães? Ou eu fico com uma e ela (se referia a Y) vai ficar com a outra?
E cruzou os braços, apreensivo por uma explicação.
- Elaine do céu!!! - Dona Flor me olhou desesperada. - O que eu faço?
- Fale a verdade. Sem enfeitar. Sem enrolar. Seja direta.
- Mas... - retrucou.
- "Mas" nada! Mãe, não existe conto de fadas. É o que é e ponto.
O W continuava com os braços cruzados esperando a resposta enquanto a Y no canto, nervosa e resmungando muito jogava dados contra a parede.
Minha mãe se abaixou.
- W, eu vou ser a sua vovó. Quer dizer, não sei. Se ela, que é minha filha, virar sua mamãe, eu vou virar sua vovó.
- Não tô entendendo nada! - disse o W, com expressão confusa.
Nem eu entenderia! Essa coisa de "vivar mamãe" e "virar vovó" me fazia pensar no Clark Kent, dentro de uma cabine telefônica, trocando de roupas e "virando" o Super Homem.
Mas, para nossa sorte, o W não se esforçou muito para entender e logo foi mexer nas folhas de sulfite e lápis de cor. Ufa, ainda bem!
E minha mãe tentou interagir com a Y e, como eu esperava, não obteve sucesso algum. Ela se quer virou para conhecer a Dona Flor que ficou com aquela cara de paisagem, voltou-se e foi desenhar com o W.
Bom, chegara a hora. Não tinha como escapar. Precisava, ao menos, tentar me aproximar da Y mais uma vez. E fui tentando... tentando... tentando...
Peguei uma bola e joguei... a Y não me olhou. Tentei fazer uma pirâmide com algumas peças, mas quando eu já estava no topo, ela empurrou com as duas mãozinhas e derrubou tudo. Peguei uma boneca e tentei ensiná-la a ninar e a dar comidinha; ela tomou a boneca das minhas mãos e jogou longe. Meu Deus, os brinquedos estavam se acabando e eu não conseguia chamar a atenção dela!
Então vi um cachorrinho de plástico, cor de rosa, jogado num canto. Me abaixei para pegá-lo e voltei engatinhando. E comecei a latir (nem tinha sido declarada mãe oficialmente e já estava pagando mico por causa de filho). Pelo incrível que pareça, o meu latido chamou atenção e ela olhou para mim desconfiada, com a boca aberta, língua de fora e muita, muita saliva escorrendo.
Opa, achei uma brecha! Então comecei a fazer uma sessão de latidos, enquanto passava o cachorrinho de plástico nas perninhas dela. Eu esquecera que estava num abrigo e me comportava como um morador de um canil. Mas... ei... eu ouvi... sim... acho que ouvi... foi uma risada? Sim, ela riu! Então soltei o cachorrinho de plástico cor de rosa nas pernas dela e comecei a fazer cócegas na barriga. E conquistei sua confiança assim... e ela sorriu, riu, gargalhou.
Mas não pense você que isto aconteceu em 5,10 minutos. Passou-se mais de uma hora para que eu conseguisse chamar a atenção.
E foi então que eu, muito na dúvida, falei baixinho: "Vem, me dá um abraço!"
E foi então que eu, muito na dúvida, falei baixinho: "Vem, me dá um abraço!"
Tive o melhor momento do dia 17 de Dezembro... ela, com muito esforço, tentou ficar de pé. Me olhou, procurando equilíbrio e, como num piscar de olhos, deu dois passos e caiu no meu colo, passando os bracinhos em volta do meu pescoço.
Seria aquilo um sinal? Milhões de coisas se passaram na minha mente.
O mundo parou quando senti que agora ela me dava um abraço bem apertado. Ah, que coisa divina, meu Deus! Que sensação boa era aquela que eu nunca havia sentido? Meu coração ficou leve e fechei os olhos deixando que aquele momento durasse o quanto fosse necessário. Senti também meu ombro todo babado, mas e daí? Será que era aquilo que as mães experimentavam quando um filho as abraçava? Pelo incrível que pareça, não chorei. Eu caí na gargalhada junto com ela. Estava rindo sem saber, sem entender, sem me preocupar com que havia em volta.
Então vi a Sra. S e o Sr. M entrando na sala sorrindo. O Sr.M era um dos responsáveis pelo abrigo também.
- Ela nunca fez isso com ninguém! - disse a Sra. S.
- Nenhum dos casais que vieram aqui conseguiram se quer pegá-la no colo. - completou o Senhor M.
- Estou indignada! Jamais imaginei que isso fosse acontecer!
E aí eu fiquei novamente com o coração e mente confusos. "Por que comigo?" Algum sinal? Era Deus escrevendo no livro da minha vida?
Não, Deus não estava escrevendo no livro da minha vida. Deus estava escrevendo no livro da vida dela. Ele sussurrava para a pequena Y que aquela mulher diante dela não a rejeitava. Aquela mulher que havia entrado por aquela porta era a escolhida por Ele e ela tinha a missão de dividir o peso da cruz que ela carregava.
"Sim, Y, é ela! Confie. Esta mulher que você vê foi a escolhida, há muito tempo. É ela quem irá protegê-la, amá-la e educá-la. Vocês estão se conhecendo agora, mas o caminho de vocês já estava traçado antes mesmo do seu nascimento. E, finalmente, chegou o momento das suas vidas se cruzarem. Ela te esperou por anos, Y. Ela te gerou no melhor lugar que se pode gerar um filho: no coração. Lembra o quanto pedi para que você fosse forte o bastante porque tinha uma pessoa à sua espera? Recorda-se dos momentos que eu estive ao seu lado pedindo que lutasse um pouco mais porque tinha que mudar a vida de outra pessoa? Você e seu irmão também foram escolhidos para mudar a vida desta mulher, assim como ela transformará toda a vida de vocês. Fique tranquila e relaxe. Vocês já são mãe e filha há muito tempo.Você, seu irmão e ela já são uma família que eu uni por razões diferentes, mas com um grande propósito."
E daquele momento em diante, tudo aconteceu naturalmente.
A Y também começou a interagir com minha mãe e com o irmão W. E ficamos ali, mais algumas horas, ouvindo instruções do Sr.M e da Sra. S em relação à rotina deles.
O que achei mais incrível foi a confiança que o W transparecia. Sem hesitar, me chamava de mamãe e quando se referia à minha mãe, era vovó. Brincávamos como se nos conhecêssemos há anos. Ele não tinha insegurança. Estava confortável, convicto. Aquele rostinho feliz e sorridente parecia ter encontrado algo que ele esperava, mas sabia que estava prestes a chegar.
Infelizmente, chegara o momento de partir.
Me despedi deles e ouvi o W perguntar por diversas vezes:
- Quando você vai me levar com você, mamãe? É hoje ou é outro dia? Mamãe, eu quero ir com você . Aonde você mora? E a vovó?
Não consegui responder nenhuma das perguntas que ele me fazia. Só o que eu conseguia pronunciar era: "Eu volto amanhã, W. Você vai dormir e acordar e eu vou voltar pra te ver de novo, tá?"
E ele insistia: "Mas você vai me levar, né, mamãe? Você não me deixar aqui não, né?"
Impossível não ter o coração esmigalhado com essas perguntas que você não pode responder para não gerar ansiedade na criança.
Saímos da sala, mãe e filha ou mãe e avó emocionadas e cheias de vida porque aquele encontro fora muito mais que mágico.
Enquanto nos dirigíamos para a recepção, Dona Flor parou, olhou-me nos olhos e perguntou:
- E aí, Elaine? O que você acha? Já dá pra responder alguma coisa?
Fiquei uns instantes em silêncio e não pensei em nada. Senti meu coração bater e o sangue pulsar. E, naquele calor de 31 graus, veio uma brisa fresca que me despenteou e me deixou leve.
- Sim, mãe. São eles. Eu não sei o porquê e nem quero saber. Mas meu coração está dizendo que eu os encontrei.
Nos abraçamos e, mais lágrimas. Aí ouvi uma declaração marcante da minha mãe, que me fez ainda mais confiante:
- Que bom, filha. Que bom. Eu vou ser sincera... eu também senti que aquelas crianças já são meus netinhos amados.
E no meio de tanta lágrima e suor, sorrimos com muita felicidade no coração.
Continua...
O mundo parou quando senti que agora ela me dava um abraço bem apertado. Ah, que coisa divina, meu Deus! Que sensação boa era aquela que eu nunca havia sentido? Meu coração ficou leve e fechei os olhos deixando que aquele momento durasse o quanto fosse necessário. Senti também meu ombro todo babado, mas e daí? Será que era aquilo que as mães experimentavam quando um filho as abraçava? Pelo incrível que pareça, não chorei. Eu caí na gargalhada junto com ela. Estava rindo sem saber, sem entender, sem me preocupar com que havia em volta.
Então vi a Sra. S e o Sr. M entrando na sala sorrindo. O Sr.M era um dos responsáveis pelo abrigo também.
- Ela nunca fez isso com ninguém! - disse a Sra. S.
- Nenhum dos casais que vieram aqui conseguiram se quer pegá-la no colo. - completou o Senhor M.
- Estou indignada! Jamais imaginei que isso fosse acontecer!
E aí eu fiquei novamente com o coração e mente confusos. "Por que comigo?" Algum sinal? Era Deus escrevendo no livro da minha vida?
Não, Deus não estava escrevendo no livro da minha vida. Deus estava escrevendo no livro da vida dela. Ele sussurrava para a pequena Y que aquela mulher diante dela não a rejeitava. Aquela mulher que havia entrado por aquela porta era a escolhida por Ele e ela tinha a missão de dividir o peso da cruz que ela carregava.
"Sim, Y, é ela! Confie. Esta mulher que você vê foi a escolhida, há muito tempo. É ela quem irá protegê-la, amá-la e educá-la. Vocês estão se conhecendo agora, mas o caminho de vocês já estava traçado antes mesmo do seu nascimento. E, finalmente, chegou o momento das suas vidas se cruzarem. Ela te esperou por anos, Y. Ela te gerou no melhor lugar que se pode gerar um filho: no coração. Lembra o quanto pedi para que você fosse forte o bastante porque tinha uma pessoa à sua espera? Recorda-se dos momentos que eu estive ao seu lado pedindo que lutasse um pouco mais porque tinha que mudar a vida de outra pessoa? Você e seu irmão também foram escolhidos para mudar a vida desta mulher, assim como ela transformará toda a vida de vocês. Fique tranquila e relaxe. Vocês já são mãe e filha há muito tempo.Você, seu irmão e ela já são uma família que eu uni por razões diferentes, mas com um grande propósito."
E daquele momento em diante, tudo aconteceu naturalmente.
A Y também começou a interagir com minha mãe e com o irmão W. E ficamos ali, mais algumas horas, ouvindo instruções do Sr.M e da Sra. S em relação à rotina deles.
O que achei mais incrível foi a confiança que o W transparecia. Sem hesitar, me chamava de mamãe e quando se referia à minha mãe, era vovó. Brincávamos como se nos conhecêssemos há anos. Ele não tinha insegurança. Estava confortável, convicto. Aquele rostinho feliz e sorridente parecia ter encontrado algo que ele esperava, mas sabia que estava prestes a chegar.
Infelizmente, chegara o momento de partir.
Me despedi deles e ouvi o W perguntar por diversas vezes:
- Quando você vai me levar com você, mamãe? É hoje ou é outro dia? Mamãe, eu quero ir com você . Aonde você mora? E a vovó?
Não consegui responder nenhuma das perguntas que ele me fazia. Só o que eu conseguia pronunciar era: "Eu volto amanhã, W. Você vai dormir e acordar e eu vou voltar pra te ver de novo, tá?"
E ele insistia: "Mas você vai me levar, né, mamãe? Você não me deixar aqui não, né?"
Impossível não ter o coração esmigalhado com essas perguntas que você não pode responder para não gerar ansiedade na criança.
Saímos da sala, mãe e filha ou mãe e avó emocionadas e cheias de vida porque aquele encontro fora muito mais que mágico.
Enquanto nos dirigíamos para a recepção, Dona Flor parou, olhou-me nos olhos e perguntou:
- E aí, Elaine? O que você acha? Já dá pra responder alguma coisa?
Fiquei uns instantes em silêncio e não pensei em nada. Senti meu coração bater e o sangue pulsar. E, naquele calor de 31 graus, veio uma brisa fresca que me despenteou e me deixou leve.
- Sim, mãe. São eles. Eu não sei o porquê e nem quero saber. Mas meu coração está dizendo que eu os encontrei.
Nos abraçamos e, mais lágrimas. Aí ouvi uma declaração marcante da minha mãe, que me fez ainda mais confiante:
- Que bom, filha. Que bom. Eu vou ser sincera... eu também senti que aquelas crianças já são meus netinhos amados.
E no meio de tanta lágrima e suor, sorrimos com muita felicidade no coração.
Continua...