Hoje dou
uma pausa no Capítulo ANJOS TAMBÉM USAM MÁSCARAS, apenas para registrar um fato
muito importante na vida do meu filhote Gabriel ocorrido no dia 11 de Março de 2013: enfim o dia tão esperado por
ele chegou.
Para nós, adultos sem brilho, que
não conseguimos mais apreciar coisinhas pequeníssimas, a troca de um dente de
leite por um permanente não é nada. Mas para o Gabriel a queda de seu primeiro
dentinho foi esperada, sonhada, desejada. E para ele perder o dente significa
ficar menos crianças, mais homenzinho, mais independente, mais próximo de ser o
garoto da casa.
Já havia algumas semanas que ele
comentara que seu dente estava “mole”. E eu, na minha correria exagerada devido
a cirurgia da Rebecca e o stress causado devido a mudança que estou programando
para o fim do mês, acabei não acompanhando todo o processo. E eu me culpo por
isso. Um dos primeiros momentos importantes na vida do meu filho e eu estava
ausente.
Hoje, logo cedo, corri até a
marmoraria para encomendar a pedra da minha futura cozinha e perdi muito tempo
por lá. Aproveitando minha última semana de “férias” – que férias, hein? Espero
que a próxima seja verdadeira -, quis também aproveitar para solicitar o
Bilhete Único do Estudante do Gabriel e segui caminho até o Terminal Pirituba.
Fiquei “apenas” 1h57min na fila, em pé, sob sol de uns 29 graus. Cheguei em
casa por volta das 16hs e do portão pude ouvir ele falando com minha mãe:
“Vovó, vovó, a mamãe chegou!” Sua voz estava excitada e agitada. Mal me
aproximei da porta e ele gritou: “Mamãe, tenho uma surpresa pra você!”
Foi então que vi aquele pequeno
dente, ainda amarrado a um longo pedaço de linha de costura. Comecei a rir
porque vi que a tradição de arrancar o dente de leite com linha continuava –
inevitável não me lembrar de quantos dentes que minha mãe arrancou com um
pedaço de linha – e, claro, por obra de Dona Flor.
Abracei-o com muita força
enquanto desejava-lhe parabéns. Beijei muito sua cabeça, testa e bochechas. E
nessa mistura de emoções senti meu coração ficando pequeno, apertado demais.
Repentinamente as lágrimas escorriam pela minha face, porém não permiti que
ninguém visse. Senti-me inútil, incapaz, incompetente. Há muito tempo eu venho
me sentindo uma mãe ausente. O trabalho me consome sábados, domingos e feriados
bem como mais de 12 horas por dia – passo dias só o vendo pela manhã enquanto o
preparo para a escola; quando retorno para casa ele já está dormindo – e agora
a tão sonhada, esperada e desejada “férias” foi consumida 26 dias pelo IAMSPE e
ocorreu o mesmo processo: levantava cedo para aprontá-lo para a escola e no
momento em que ele retornava eu já estava saindo para visitar sua irmãzinha;
ficávamos 10 minutos juntos e eu partia. Depois de 6 horas de trânsito, 8
ônibus enfim eu chegava em casa, mas ele já dormia. Durante todo esse período
não pude se que ajudá-lo com as lições de casa. Quem tomou meu lugar
temporariamente foi minha irmã, a Tia Cheche. Meu pai o levava para a casa dela
e lá eles faziam o dever de casa juntos, assistiam DVD, tomavam sorvete... isso
é obrigação minha. Mas eu também tinha a obrigação de cruzar a cidade para
ficar pelo menos 2 horas com a minha Becca. Duas obrigações, dois filhos... e
eu apenas uma. Quando me restou apenas uma semana de férias, eu tento correr ao
máximo para resolver mil coisas para a mudança para nosso “Lar Doce Lar” porque
não quero postergar pela quinta vez a ida para nosso cantinho de aconchego. E
agora, exatamente como no momento em que ele conseguiu dar as primeiras voltas
com a bicicleta sem rodinhas, o primeiro dentinho de leite fora extraído... e
eu ausente.
Mas não bastava. Para que eu me
sentisse ainda pior, ele me falou da Fada do Dente. Novo susto: “Meus Deus, eu
nunca falei nada sobre a Fada do Dente!”, pensei. Não. Nunca. Mas ele conhecia.
Quem será que tomou meu lugar mais uma vez e contou a lenda da Fada do Dente?
Seja lá quem foi: – televisão, professora, desenho animado, tia – mais uma vez,
erguia a estatueta de “Mãe Ausente” e me entregava.
Sei que não posso voltar o tempo
pra refazer tantas coisinhas, então já fui até o quarto, retirei o dente que
estava debaixo do travesseiro e em seu lugar coloquei uma nota de R$2,00.
Também sei que esse momento para ele não tem valor, dois reais de nada vale. O
que me resta é voltar ao meu quarto, agradecer pelo dia e orar, pedindo muito
que um dia ele possa me perdoar não só por estar ausente no momento em que ele
perdeu o primeiro dentinho de leite, mas por ter sido tão ausente em momentos
já passados e, principalmente, pelos próximos momentos de ausência que
existirão e eu não poderei resgatar o tempo perdido, por mais que eu queira,
por mais que meu coração e minha alma clamem por isso.