Era sábado, 01 de Agosto.
Após levarmos a peruca para ajuste, optamos por passear na
Paulista ao invés de ficar na sala de espera até que tudo ficasse pronto.
Subimos a Rua Augusta vagarosamente, como turistas. Não
parecia que morávamos em SP. Olhávamos loja por loja, cada camelô, cada músico
de rua, cada estátua viva.
Entre uma apreciação e outra, ouvia:
“Olha, mamamia! A capinha de celular do Romero Britto!”
E por diversas vezes:
“Nossa, que vestido fashion!”
Enquanto esperávamos o pedido chegar, resolvi atualizar
minha irmã com o que estava acontecendo, mandando as fotos do nosso passeio,
etc e tal.
E lá veio a bronca:
“Eh, mamamia... você e esse celular! Não solta por nada!”
Olhei para os lados. Ufa! Ninguém próximo a nossa mesa.
Mesmo assim meu rosto corou.
“Becca, estou contando pra sua tia sobre o que estamos
fazendo.”
“Então agora para! – falou rispidamente. Agora é hora da
refeição e é hora sagrada! Guarda esse celular e vamos comer.”
Cheguei a abrir a boca para repreendê-la pela maneira como
falava comigo, porém coloquei a mão na cabeça e refleti. Seria justo repreendê-la
por estar me dizendo exatamente o que falo repetidamente quando ela está
assistindo TV ou jogando no tablet? Somos espelhos para nossos filhos, não é?
No final das contas, guardei o celular na bolsa. Confesso,
estava envergonhada por tomar uma bronca da minha filha de 7 anos, porém também
estava orgulhosa. Orgulhosa por ela e por mim.
Orgulhosa por ela ter prestado atenção e estar praticando o
que ensinei.
Orgulhosa por ela se preocupar em repassar o que ensinei,
mesmo que fosse para mim mesma.
Orgulhosa de mim, por ter passado um conceito tão simples e
ao mesmo tempo tão importante.