Numa dessas manhãs, enquanto eu arrumava meu pequeno Gabriel
para mais um dia de escolinha, fui surpreendida com uma pergunta bombástica
(para mim):
“Mamãe, você disse que eu e a Becca não saímos da sua
barriga, não é?”
“Sim, filhote. Isso mesmo.”
“Isso mesmo, filhote. A mamãe não conhece ela.”
Então ele me encarou com os olhinhos cheios d´água e
avermelhados:
“E por que você colocou a gente na barriga de uma mulher que
você nem conhecia? E se essa mulher não devolve a gente pra você como é que a
gente ia ficar? Eu e a Bebecca ficaríamos sem mamãe?”
E agora? O que eu respondo? Pensa rápido, Elaine, pensa
rápido!!!
“E se ela foge? E se ela não dá a gente pra você, mamãe?
Como ia ser, hein? Quer dizer que hoje não teríamos mamãe???”
Meu coração virava pedacinhos pouco a pouco e eu não
conseguia pensar em nada; nenhuma palavra vinha a minha boca; nenhum pensamento
passava pela minha cabeça. Fui pega mais do que de surpresa... mas eu tinha que
responder... ele precisava ouvir algo para não chorar... ele precisava que eu
dissesse alguma coisa para confortá-lo.
Não vou negar. Caí em pranto. Não me perguntem o porquê, mas
eu me desmanchei em lágrimas. Senti até me faltar o ar. Senti uma tristeza tão
grande porque eu não poderia explicar que era tudo exatamente ao contrário. A irresponsável não era eu. Eu JAMAIS iria
abandoná-los. Eu os seguiria até o fim do mundo. Eu daria minha vida por eles.
“Mamãe...” – ele esperava uma resposta.
Entre lágrimas colocou minha mãe sobre o peito dele.
“Por que você tá chorando?” – e ele esvaiu-se em lágrimas.
“Filhote... “– perdi a voz.
Então fechei meus olhos e procurei uma maneira de ouvir o
meu coração. E fui repetindo o que eu ouvia:
“Quem escolheu essa mulher pra emprestar a barriga não foi a
mamãe. Quem escolheu foi Papai do Céu. E não importa o que acontecesse, Papai
do Céu traria você e a Becca para mim. Tem coisas que a gente não entende. Tem
coisas que a mamãe não sabe. Não fique pensando como você e sua irmãzinha
vieram parar aqui comigo... só pense que agora estamos juntos. O que importa é
que estamos juntos. A mamãe nunca viu a barriga da mulher de onde você nasceu,
mas tenha certeza: a mamãe já te amava antes de te conhecer. A mamãe já te
amava porque Papai do Céu já tinha me escolhido, bem antes de você parar na
barriga dela, para ser sua mamãe. E Papai do Céu já tinha escolhido você e a
Rebecca para serem meus filhos . E é isso que importa. Acontecesse o que
acontecesse, Papai do Céu faria com que ficássemos juntos. E jamais, jamais,
jamais a gente vai se separar. Eu prometo!”
Ele limpou as lágrimas e me deu um abraço muito mais forte
do que me dera em qualquer outra vez.
“Tá bom, mamãe. Eu te amo pra sempre.”
Agora deixo a imaginação de vocês livre para descrever o que
senti essa hora... porque eu mesma sou incapaz de descrever...