quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

BATALHA INTERROMPIDA

No último dia 19 de Dezembro levei um duro golpe. Perdi a maior e mais importante batalha que vinha travando há mais de 4 anos. Minha pequena Rebecca também perdeu. Eu, como mãe, tinha o dever de vencer. Mas eu fracassei. Fracassei... e o grande sonho de minha filha escorreu por entre meus dedos. Eu não fui capaz de cumprir com minha palavra... não consegui realizar o desejo que ela tem de "ser cabeluda".

Foram um total de 12 cirurgias. Muitas infecções. Outras tantas rejeições.


No dia 05 de Dezembro de 2014, minha pequena foi submetida a uma cirurgia para colocação do expansor tecidual*. O procedimento cirúrgico foi um sucesso. Nenhuma surpresa. Tanto que ela recebeu alta do hospital no dia seguinte. Para completar nossa alegria, a cicatrização seguia muito bem, muito rápida até porque a Dra Giovana Giordani, dona de mãos divinas de fada , conseguiu fazer um corte mínimo para a colocação do expansor.

Mas nossa alegria durou pouco. Em menos de 5 dias notei que surgia um ponto preto bem ao centro da cabeça de minha pequena. Aos poucos o ponto cresceu e começou a se parecer com uma espinha ou um cravo. Avaliação médica e a princípio deduziu-se que era uma linha cirúrgica que havia ficado no organismo nas cirurgias anteriores e agora, por ter sido mexido, o próprio organismo estava tentando expulsá-la.



Estado de alerta! Preocupação! Acompanhar a evolução do quadro.

Eis que dia 13 de dezembro, o que imaginávamos ser uma linha cirúrgica que estava sendo expelida pelo organismo rompeu a pele. Foi então que notou-se que não era nenhum corpo estranho. Era nada mais nada menos que o expansor. Pela segunda vez a pele, que estava saudável, havia "enfraquecido", tornando-se tão frágil a ponto de romper-se.


Choque. Coração estilhaçado. Era a quarta vez que tentávamos o procedimento. Eu não queria acreditar. Dobrei  meus joelhos pedindo para que Deus mudasse o rumo das coisas. Foram lágrimas que derramei e que faziam com que meus olhos e face ficassem ardidos. Lágrimas de dor. Lágrimas de não aceitação. Lágrimas de desespero.


Durante uma semana a equipe médica estudou o que poderia ser feito para não haver perda do expansor. Houve até uma idéia de retirá-lo, enviá-lo ao laboratório para esterilização. E depois que a pele estivesse novamente saudável, seria feita nova tentativa.

Eu me apeguei àquela possível solução porque já não mais aguentava ver minha pequena passar por tantos procedimentos em vão. Já íamos para a 12ª cirurgia e, infelizmente, o maior e melhor resultado havia sido na primeira. Não fosse a infecção e necrose do tecido, hoje, minha pequena já teria 100% do couro cabeludo, ou algo bem próximo a isso. Isso significa que, pelo menos, 70% das sequelas da queimadura estariam suavizadas.

Dra. Giovana Giordani (Cirurgiã Plástica) - IAMSPE - Queimados
Então no dia 19 de Dezembro, estava eu às 6:30 da  manhã com minha pequena no IAMSPE. Ela, apesar de ter acordado às 4 horas da madrugada, estar em jejum e ainda estar em recuperação da cirurgia feita em 05 de Dezembro, estava feliz, sorridente como sempre, já contando os dias para voltar para casa, antes mesmo de ter sido internada.

Ela foi levada ao Centro Cirúrgico às 13 horas. Acompanhei todo o processo até o momento em que ela foi sedada. Lembro-me de ter saído da sala de cirurgia às 13:23.

Para minha surpresa, e mesmo surpresa médica, a cirurgia, que deveria ser concluída em 1 hora, estendeu-se. Eu me torturava a todo momento quando olhava no relógio: 13:30, 14:00, 14:30, 15:00, 15:30, 16:00. 16 horas? Como assim? O que acontecera? Por que a cirurgia ainda não acabara?

Minha ansiedade tornou-se em desespero, agonia, medo, pânico, pavor.
Os minutos começaram a parecer horas.

Qual o motivo da demora? O que saíra errado?

Foi inevitável não pensar e esperar o pior.

Já eram 16:30 e eu nem imaginava o que estava acontecendo. Não imaginava que a vida estava aprontando mais uma pra mim e minha Rebecca. E eu também não tinha idéia da proporção do novo problema que estava para ser revelado...


(continua)