quarta-feira, 11 de março de 2015

BATALHA INTERROMPIDA - PARTE III

Como eu havia escrito no post anterior, estava muito, muito brava com Deus.

Entrei na sala do pós cirúrgico aos prantos. Gentilmente uma enfermeira colocou uma cadeira ao lado da cama onde minha pequena repousava. Sentei e automaticamente me debrucei, sem poder aguentar a pressão que sentia em meu peito. Os pensamentos passavam por minha mente numa velocidade que eu  jamais poderei explicar. Em segundos tive flashes de quando a vi pela primeira vez, do choro, do bebê agressivo, das mordidas, dos primeiros passos tímidos, do primeiro xixi no vaso sanitário, das primeiras palavras, dos chiliques e ataques de nervos por absolutamente nada, dos escândalos para escovar os dentes, das madrugadas que se levantava e, mesmo no escuro, saía do quarto e vinha se deitar na minha cama... de repente, a primeira cirurgia! Meus Deus, como passara tão rápido! Ao mesmo tempo lembrava-me dos joelhos no chão, pedindo paciência, das orações pedindo que o melhor fosse feito para ela, mesmo contra minha vontade.

Quantas noites acordada pensando na adolescência, a fase mais complicada da vida de qualquer ser humano? E quantas noites alimentando a esperança que com as cirurgias as sequelas iriam amenizar? Não, não e não! Eu não entendia! Quando menos esperei, os soluços preenchiam o vazio da sala.

Então ouvi aquela voz miúda, trêmula e sofrida perto de mim:

“Não chora, mamãe. Eu tô bem.”

Fui dominada por uma emoção que também jamais saberei explicar. E, novamente, a mesma voz sufoca meus soluços:

“Por favor, não chora, mamãe.”

Quando levantei a cabeça notei que era a vozinha da Rebecca, que ainda estava com os olhos cerrados.

Naquele momento precisei me calar, mesmo que não pudesse, mesmo que não quisesse. Não consegui conter as lágrimas, mas tive que engolir os soluços, um a um.

Então vi a mãozinha dela procurando a minha...

(continua)