segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CHICOTE DE BUANDA

Era a manhã de domingo de 28 de Setembro de 2014.

Gabriel e Rebecca decidem brincar no corredor.

Enquanto arrumam os brinquedos, ouço Rebecca cantando por repetidas vezes:

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor


O “farofeiro” que contava vantagem parou

A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem...

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

  A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor


Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor...

Não aguentei e me aproximei.

“Becca, onde você aprendeu essa música?”

Ela arregalou os olhos porque não imaginava que eu estivesse a ouvi-la.

“Não se preocupa puique não é funk!”

“Eu sei que não é funk, mas onde você ouviu essa música?”

“Oras, no balé. A gente tá aprendendo essa música para a apresentação. E fica tranquila porque não é funk. No balé a gente só aprende coisas boas, de classe e coisa de gente inteligente. Minha prô Isabella falou que o nome do cantor é Chicote de Buanda.”

Segurei a gargalhada:

“Chico Buarque de Holanda.” - corrigi.

“Você conhece?” – ela ficou espantada.

“Claro que conheço. Eu gosto de algumas músicas dele.”

“Minha prô Isa falou que ele é inteligente, que escreve música, livro e escreve até pro teatro, você sabia?”

“Sabia, sim. O Chico Buarque é muito inteligente e muito importante para a história do nosso Brasil.”

“Eu quero conhecer o Buanda.”

“Chico Buarque de Holanda, Becca.”

“Ah, o nome dele é muito grande. Eu quero conhecer ele e assistir um teatro dele.”

“Ah, é? E por que você quer conhece-lo?”

“Puique minha prô falou que ele tem os olhos lindos como os meus...”

"Mas ele tem olhos azuis. Os seus são verdes."

"Não impoita! É lindo igual o meu!"

Eu fiquei com a cara de tacho pela milionésima vez.

Modesta a minha filha, não acham???

Cá entre nos, que Deus permita que a auto estima dela esteja sempre assim, nas alturas.