Era a manhã de domingo de 28 de
Setembro de 2014.
Gabriel e Rebecca decidem
brincar no corredor.
Enquanto arrumam os brinquedos,
ouço Rebecca cantando por repetidas vezes:
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O “farofeiro” que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem...
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
O meu amor me chamou
“Becca,
onde você aprendeu essa música?”
Ela
arregalou os olhos porque não imaginava que eu estivesse a ouvi-la.
“Não se preocupa puique não é funk!”
“Não se preocupa puique não é funk!”
“Eu sei que não é funk, mas onde você ouviu essa música?”
“Oras, no balé. A gente tá aprendendo essa música para a apresentação. E fica tranquila porque não é funk. No balé a gente só aprende coisas boas, de classe e coisa de gente inteligente. Minha prô Isabella falou que o nome do cantor é Chicote de Buanda.”
Segurei a gargalhada:
“Chico Buarque de Holanda.” - corrigi.
“Você conhece?” – ela ficou espantada.
“Claro que conheço. Eu gosto de algumas músicas dele.”
“Minha prô Isa falou que ele é inteligente, que escreve música, livro e escreve até pro teatro, você sabia?”
“Sabia, sim. O Chico Buarque é muito inteligente e muito importante para a história do nosso Brasil.”
“Eu quero conhecer o Buanda.”
“Chico Buarque de Holanda, Becca.”
“Ah, o nome dele é muito grande. Eu quero conhecer ele e assistir um teatro dele.”
“Ah, é? E por que você quer conhece-lo?”
“Puique minha prô falou que ele tem os olhos lindos como os meus...”
"Mas ele tem olhos azuis. Os seus são verdes."
"Não impoita! É lindo igual o meu!"
Eu fiquei com a cara de tacho pela milionésima vez.
Modesta a minha filha, não acham???
Cá entre nos, que Deus permita que a auto estima dela esteja sempre assim, nas alturas.