Acho que, se tudo der certo, consigo encerrar neste post o Dia 23 de Dezembro.
Tudo sobre controle, também aproveitei para brincar com o W no chuveiro. Acho que ficamos quase uma hora nos divertindo, brincando, cantando...
A Y dormia quando entrei com o W no quarto para trocá-lo. Aproveitei nosso momento a sós para dar uma notícia nova. Estava tensa, pois se quer imaginava como ele reagiria.
- Hoje é um dia legal, né, W? É seu aniversário, você ganhou uma casa, uma mamãe...
- Uma vovó também... - ele me interrompeu.
- Claro, uma vovó! Ganhou coisas muito importantes: uma casa, uma família e um lar. E que tal ganhar um nome novo?
- Nome novo?
- É. A partir de agora você irá se chamar Gabriel.
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De W para Gabriel para Gabiel - Futuro Biel |
- "Gabiel"? - ele sorriu.
- Sim. Gabriel. O que você acha?
- Eu não vou mais chamar W?
- Não. W é nome do passado. Você está ganhando uma vida totalmente nova. Nada melhor que um novo nome.
- Gabiel, Gabiel... hmmm... - ele parecia pensativo.
- Me diz, gosta? Ou você quer ser o W?
- Hum... eu quero ser o Gabiel!!!
Nossa, tinha sido mais fácil do que eu pensava! Os olhinhos redondos e negros brilhavam e o sorriso deixava os pequenos dentes à exposição.
- Opa, que bom que você gostou! E a sua irmãzinha não será mais Y. A partir de agora o nome dela será Rebecca.
- "Uebecca"?
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De Y para Rebecca para Uebecca - Futura Becca, Bebecca |
- Rebecca. Que tal?
- Legal também.
- Então a partir de agora eu vou chamá-los de Gabriel e Rebecca. E quando alguém perguntar qual é o seu nome, o que você vai responder?
Ele ficou pensativo. Colocou a mãozinha no queixo e respondeu:
- "Gabiel", ué!
- Muito bem, filho!
- Filho? Não é "Gabiel"?
Não pude evitar de rir.
- Você é meu filho. E você se chama Gabriel. O Gabriel é o meu filho. Entendeu?
- E a Y, quer dizer, a "Uebecca" é seu filho também?
- Não. Ela é minha filhA porque é menina. Você é filhO porque é menino!
- E você?
- Eu sou sua mamãe e da Rebecca também. Meu nome é Elaine.
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De Elaine para Mamãe para Enane |
- "Enane"?
- Exatamente.
- Então agora é "Gabiel", "Uebecca" e "Enane"?
- Isso mesmo! Muito bem!
- Então eu não posso falar mais W? E também não posso mais falar Y?
- Isso...
- Eu tenho que falar "Gabiel" e "Uebecca"?
- Muito bem!
Ele ficou quieto e envergonhado.
- E mamãe é como? Eu esqueci.
- Elaine.
- Ah, é mesmo! "Enane".
- E como a "Uebecca" vai saber se ela tá "dumino" (dormindo)?
- Ela aprende com o tempo... ela vai crescendo e vai aprendendo.
Terminei de vestí-lo e notava que o sorriso não saía dos lábios dele. A primeira coisa foi pular no chão e começar a mexer em tanto brinquedo, tanta peça, tanta coisa!
Dona Flor ficou fazendo companhia a ele enquanto fui tomar banho.
Chegou outra preocupação: onde dormir? Precisamos ficar os 3 juntos, mas como? Só havia à disposição 3 camas de solteiro e em quartos separados. Não havia outra escolha: eu colocaria 2 colchões de solteiro no chão e dormiria na cama. Logo, não havia problemas com quedas e haveria bastante espaço para eles se mexerem, rolarem.
Quando voltei ao quarto, o Gabriel correu em minha direção:
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Dona Fô - a Flor de nossas vidas |
- Mamãe, você sabia que a vovó se chama Dona "Fô"? Eu contei pa ela do meu novo nome e ela falou que o nome dela é "Fô". Você sabia, mamãe?
- Nossa, é verdade? Que legal! - o abracei ao mesmo tempo em que o pegava no colo. - Que dia legal, né, Gabriel? Que dia mais feliz!!! Você descobrindo e aprendendo tantas coisas!!!
Relaxada após o banho não pude conter a emoção de ter uma criança no meu colo e poder chamá-la de filho. Um emaranhado de pensamentos tumultuavam a minha mente, mas naquele momento eu aproveitei para sentir aquele corpo quente em volta do meu e o cheiro de bebê que ele exalava. As lágrimas desciam pela minha face sem controle... eu tinha medo do dia seguinte, mas amava aquele momento. Tudo era estranho demais, porém a emoção de ser chamada de "mamãe" apaziguava os ânimos. Tanto o Gabriel quanto a Rebecca já dependiam de mim, era fato. Mas eu ainda não havia me dado conta que eu também já começava a depender deles. O melhor disso tudo? Ah, não tenham dúvidas: havia a aceitação incondicional e o amor inocente dos dois, sem cobranças mesmo que não tivéssemos nenhum vínculo biológico, de sangue, DNA ou umbilical. Nosso vínculo era ingênuo, puro e totalmente espiritual.
Lembro-me que arrumei o quarto ainda com muitas lágrimas nos olhos. Coloquei a pequena Rebecca num dos colchões. Improvisei um abajur e pedi para que o Gabriel se deitasse, mas ele queria ficar ali, brincando. Então me deitei e pensei: bom, uma hora o sono dele chega e ele adormecerá. É muita emoção para uma criança. Provavelmente eu não durma de tamanha ansiedade, mas ele será vencido pelo cansaço, com certeza. Já se passava das 22hs e imaginei que muito em breve ele acabaria cedendo.
E eu esperei, esperei, esperei...
Cochilei. Acordei. Ele ainda acordado.
Esperei, esperei, esperei...
Passou-se uma, duas, três horas.
Esperei, esperei, esperei.
E as horas continuavam passando.
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Rebecca e Gabriel - Primeira Noite em Casa |
Então, às 3h37min da madrugada vi meu filho, que agora era Gabriel e não W, dormindo sentado. Levantei-me e o coloquei no colchão, próximo à minha filha, que agora era Rebecca e não Y. Agora também existia uma Elaine, que não era mais Nane... era simplesmente e adoravelmente Mamãe.
Deite-me. Apaguei a luz.
Para mim o dia 23 de Dezembro acabava ali, mas na verdade já estávamos no dia 24 de Dezembro.
Continua...