“Não importa o que digam. Ouça a voz do seu
coração.”
Foi exatamente o que fiz quando conheci o Biel e a
Becca.
Eu tinha certeza mais que absoluta que queria ser
mãe adotiva. Eu só não sabia quais crianças seriam escolhidas por Deus para
serem meus filhos.
Eu não tinha idéia da idade muito menos do sexo.
Eu não tinha idéia da cor nem se teriam algum tipo
de deficiência física ou mental.
Mas Deus separou o Gabriel e a Rebecca para habitar
meu coração.
No momento em que os conheci, tinha consciência que
poderia não aceita-los. Tanto a assistente social quanto a psicóloga do Fórum
da Lapa já tinham me explicado que caso não houvesse “empatia” eu poderia
desistir e voltar para a fila de adoção, sem interferir em nada meu processo.
Não vou negar que ao ver a Rebecca com tantas
sequelas do acidente estremeci por dentro. Houve um misto de raiva e pena.
Raiva dos pais biológicos e pena porque ela era apenas um bebê e já havia
sofrido tanto.
Quis chorar. E chorei. Chorei muito.
Quantas cirurgias aquela pessoinha precisaria para
amenizar tamanhas sequelas? Alguma cirurgia poderia melhorar a qualidade de
vida dela? Eu, sendo solteira, conseguiria arcar com tanto gasto? Seria eu capaz
de dar uma vida melhor para ela? Conseguiria eu ser forte o suficiente para
aguentar tantas coisas, que nem sabia ao certo o que seria? Eu estava
desempregada, morando com meus pais e debilitada emocionalmente.
Senti medo. Muito medo.
Era mais fácil dizer não. Era mais simples virar as
costas e não aceita-los. Mas parece que alguém sussurrou algo aos meus ouvidos:
“Não importa o que digam. Ouça a voz do seu coração.”
Fechei os olhos. Eu já os amava.
O medo voltou. Voltou e me dominou.
“Você não vai conseguir. É muito maior que você. Deixe
os dois para outro casal. Você não tem potencial.” – outra voz sussurrava
também.
Não sei por quantos segundos fiquei sufocada e com
medo.
E, de repente, eu abri meus olhos. Superei o medo.
E disse: "São meus!”
E cá estou eu. Há quase 5 anos me tornei mãe
adotiva. E desde o primeiro dia em que os adotei, vira e mexe estou em
dificuldades.
E Deus tem me dado muitos tapas na cara. Quando minha
fé fica abalada e eu me sinto fraca, Ele vem e mostra que eu abracei uma causa
porque eu sou capaz, mas, acima de tudo, porque Ele cuidaria de tudo.
No próximo dia 05 de Dezembro minha pequena passará
por mais uma cirurgia para tentativa de correção do couro cabeludo. Mais uma
vez, um gasto...
Pois Deus interferiu novamente. Tocou no coração
das pessoas que trabalham comigo.
Sem que eu soubesse, criaram a campanha “Vamos
devolver o cabelinho da Becca”. Arrecadaram não apenas o valor do expansor, mas
um valor a maior, para custear curativos e antibióticos para o pós operatório
como também gastos com transporte.
Minha surpresa foi maior ainda porque houve pessoas
que colaboraram mesmo sem ao menos me conhecer. Departamentos que nem sei onde
ficam localizados fisicamente aqui dentro da empresa.
Essa mobilização não foi apenas financeira. Ela mexeu
com as pessoas. Com corações. Com o altruísmo de cada um.
Esta é a primeira versão. Ainda não consegui organizar todos os nomes para agradecer, mas eu preciso disseminar o vídeo em agradecimento a todos que participaram. Muito em breve publicarei a nova versão do texto, com correções e nomes de todos que se empenharam em devolver a qualidade de vida e autoestima da Becca.
Como digo no vídeo, creio na corrente do bem. O que você faz aqui, volta pra você. Se todos acham que tive uma atitude nobre adotando os dois, já estou colhendo os frutos do bem plantei. Em breve, serão vocês, colaboradores da ação "Vamos devolver o cabelinho da Becca" que irão recolher novos frutos"