E mais um ciclo se
completa... 17 de Dezembro de 2009... Hoje, faz 6 anos e eu ainda revivo aquela
manhã quando o telefone tocou. Um telefonema e lágrimas. Lágrimas e ansiedade.
Um encontro, um sorriso, uma nova vida, o primeiro capítulo de uma história, um
amor puro e inexplicável transbordou meu coração. E foi então que eu pari, foi
então que eu dei a luz, foi então que vocês trouxeram luz à minha vida.
Gabriel e Rebecca. Não
nasceram de mim porque Deus os fez nascer para mim.
Gabriel e Rebecca. Não são
a melhor parte de mim porque são eu por completo.
Gabriel e Rebecca. Não
habitaram meu ventre porque eu prefiri gerá-los no coração.
Gabriel e Rebecca. A
família que eu escolhi.
Tantas coisas já vivemos
juntos. Momentos alegres, momentos tristes. Olhando para trás eu só tenho a
confirmação que vocês foram a minha melhor escolha. Uma escolha louca e sem nexo
para muitos. Para nós não é necessário entender; nos basta sentir.
"Encontrei o sentido
da vida: o amor me rodeou." (Menotti Del Picchia)
"Eu morreria por você(S),
na guerra ou na paz." (Edgard Scandurra - Ira!)
Parabéns para nós,
filhotes! Parabéns para a nossa família!
Obrigada, Senhor, por me
dar o privilégio de ser mãe. Obrigada por permitir que o Gabriel e a Rebecca me
escolhessem como mãe. Obrigada por colocar não apenas dois filhos na minha vida
mas por colocar sentido na minha vida!
"Descobri que o
melhor lugar para se gerar um filho é no coração." (Nane Andrade)
Da série "Pérolas da Becca": Aos poucos estou delegando tarefas domésticas às crianças, afinal de contas, já estão com 7 e quase 9 anos. Procuro ao máximo incentivar, mostrar os benefícios de se manter a casa limpa e organizada.
Como já era de se imaginar, o Gabriel é o meu grande ajudante. E a Rebecca... bem, essa é outra coisa. Só pra variar, é uma guerra. Todo santo dia uma briga! Mal terminamos o café e o Biel já retira os copos, talheres, a margarina, bolachas. Guarda tudo com paciência e muita, muita organização. Depois já pega o paninho para limpar a mesa. Retira os farelos das cadeiras. Na sequência já pega a vassoura e varre cozinha, sala e já corre para varrer o quintal. E faz tudo certinho... muitas vezes, até melhor que eu! A tarefa da Becca é arrumar o próprio quarto e enxugar a louça... mas ela nunca fez a tarefa por completo. Enrola tanto que o Biel ou eu ficamos nervosos e acabamos fazendo por ela. Eu falo, converso, peço, ordeno, brigo, grito, mas na maioria das vezes sou vencida pelo cansaço. Já deixei de castigo, já dei palmadas... confesso que não sei mais o que fazer! As desculpas são as mais variadas:
"Pra que limpar o quarto se vai bagunçar de novo?" "A gente enxuga a louça, mas molha o pano. Não vou molhar o pano!" "Não vou arrumar a cama porque eu vou dormir à noite e vai bagunçar tudo!" "Lá vem essa história de novo... enxugar a louça... daqui a pouco vai sujar de novo!" Para minha surpresa, hoje ela conseguiu se superar com a desculpa.
Estou eu lavando louça e noto que o escorredor só está enchendo. Tento localizá-la, mas o silêncio preenche o ambiente. Onde será que ela está?
"Becca, cadê você?" "Estou na sala, mamamia!" "E por que não veio enxugar a louça?" "Estou lendo!" "Pois pare de ler e venha enxugar a louça." A resposta foi pausada e com tom firme:
"Ler é importante para minha evolução. Sabia que ler pode mudar o meu futuro? Enxugar a louça, não! Desculpa, mamamia, mas vou seguir o seu conselho: estudar é muito importante. Vou continuar lendo. A louça pode esperar!Meu futuro não!" Como é dissimulada! E eu? Bom.... mais uma vez fiquei sem ter o que falar e com cara de tacho.
Após praticamente 6 anos, consegui tirar 10 dias de férias e
fugi 4 dias de São Paulo.
6 anos seguidos sem férias. Tive férias apenas 1 vez, mas
foi num período conturbado, onde a minha pequena Rebecca estava em situação de
observação devido a cirurgia.
Após muitas contas e cálculos decidi que meus filhos e eu
merecíamos viajar, conhecer um lugar novo, nos divertir. Em quase 6 anos
juntos, seria nossa segunda viagem juntos. Poderia até dizer que era a
primeira, pois viajamos em meados de 2010, quando eles tinham 2 e 3 anos e não
havia nenhuma recordação.
Tudo corria muito bem. Crianças eufóricas, curtindo cada
minuto ao máximo. Eu estava simplesmente encantada, boba, babona por ver os
olhos dos meus pequenos brilhando, vivos e atentos, sem contar o sorriso longo
e largo que não saía dos lábios deles e, consecutivamente, dos meus. Vê-los
entrar no hotel e capotar num sono profundo era a garantia que tudo estava
valendo a pena e que eles guardariam a experiência por toda a vida.
Mas, como não poderia deixar de ser, Rebecca tinha que
soltar uma de suas pérolas para fazer aquele momento de férias inesquecível,
mesmo que de uma maneira não tão boa.
Estávamos na praia. Eles corriam pela areia e se jogavam na
água. Eu parecia uma louca, correndo de um lado para outro, berrando: “Não tão
longe! Mais pra cá! Cuidado!”
Depois de quase uma hora dentro da água e, quando eu
finalmente estava menos afobada, notei que a Rebecca saía da água e veio em
minha direção a me observar dos pés a cabeça:
“Mamamia, eu descobri porque você não arruma namorado.”
Respirei fundo e fechei os olhos. Seja lá o que fosse dito,
sabia que seria ousado.
“Eu tava olhando e você tá assim meio esquisita! Por que
você não fala com minhas doutoras – se referia à Dra Giovana Giovani e Dra Ana
Paula Iervolino – e pede para elas arrumarem sua barriga, seu peito e suas
pernas? Sabia que elas conseguem fazer qualquer um ficar bonito?”
Não tive reação. Apenas olhei para os lados. Ufa! Praia
vazia. A pessoa mais próxima estava a pelo menos 400 metros de distância.
Minhas bochechas começaram a queimar e, por certo, estavam avermelhadas. Ao
mesmo tempo em que me vieram mil palavras à boca, não soube o que falar.
“Rebecca Mariamne! Já pensou em cuidar da sua vida?” – disse
eu subitamente.
Ela me olhou nos olhos e a expressão facial foi de total
desaprovação.
“Estou falando para o seu bem, mas se fosse quer ficar
assim, tudo bem! Eu não falo mais nada...” – e saiu pulando, tão feliz quanto
veio, indo ao encontro de uma onda.
Infelizmente não consigo até hoje descrever como me senti
diante de tal situação. Uma mistura de riso com choro, alegria e mágoa.
Milhares de situações passaram pela minha frente, centenas de propagandas de
dietas milagrosas com modelos magérrimas ou com as “musas fitness”, lembrei
pelo menos de meia dúzia de academias na minha região.
E confesso que se eu não
fosse tão de bem comigo mesma e se não tivesse trabalhado bastante minha mente
para aceitação do meu corpo, no mínimo teria me vestido. Mas não, continuei de biquíni e continuei
exposta ao sol. Sentei na areia e comecei a gargalhar sozinha... essa é minha
filha... sinceridade em pessoa... até demais.
Mais uma para a coleção de pérolas da minha pequena Rebecca.
Era quarta feira. Mal abri a porta e ela veio correndo já se
explicando:
“Mamamia, eu tenho uma coisa pra te contar!”
Isso mesmo, nem deu boa noite nem me beijou ou me abraçou.
“Hoje eu levei bilhete, mas eu juro que eu se esforcei.” – a
voz e a expressão dos olhos já dizia que era culpada.
“Se?”
“Quer dizer... eu ME esforcei.”
“O que foi dessa vez, Rebecca? Não terminou de copiar a
lição da lousa? Não terminou a lição do livro por ficar cantando?” eu até
tentei ficar brava, mas estava chateada.
Ela fez aquela cara de cachorro quando cai do caminhão de
mudança:
“Eu não sei, mamamia. Eu não li. Fiquei com medo.”
Bom, só me restou abrir a agenda e ler o que ocorrera.
Comecei a ler e senti vontade de rir, mas me contive. O
bilhete não era advertência nem bronca. Era apenas um comunicado. Um comunicado para os pais que deixam seus
filhos se atrasarem tanto na entrada quanto na saída.
É, caros amigos... por essa eu não esperava! A Rebecca é tão acostumada a levar bilhetes, que quando a professora cola um simples comunicado, já deduz que é por conta de algo que ela aprontou.
Quem disse
que o Biel não tem seus dias de pérolas???
O que vou
relatar aconteceu no último dia 21 de Agosto.
Lembro-me
que foi uma semana terrível no trabalho. Muitas mudanças em meu departamento.
Mil coisas novas, mudança de gerência, de estrutura e funções. Eu realmente
estava tensa, estressada, ansiosa. Não bastasse, começara a semana de provas
das crianças. Sei que deveria estar feliz porque era sexta feira e teria o fim
de semana para curtir, mas lembrava que tinha que fazer faxina, levar as
crianças no balé e natação, cozinhar, etc, etc, etc. Logo, não conseguia me
animar.
Abri as
agendas das crianças e me deparei com bilhetes que me deixaram extremamente
furiosa: Gabriel não estava fazendo as lições de casa e Rebecca novamente não
copiara o conteúdo da lousa porque estava cantando. É isso mesmo que leram:
estava cantando!!! Ai, meu Deus...
Levei os
dois para a sala e passei um longo sermão. Óbvio que agora não me lembro nem de
1/3 do que disse, mas se que falei de responsabilidades, seriedade, futuro e
todos aqueles exemplos de sucesso e fracasso que as mães contam quando estão
nervosas e chateadas. Foquei na nossa família. Falei que éramos só os 3 e que
tínhamos que nos ajudar porque eu não conseguia fazer tudo sozinha nem ficar
supervisionando cada passo deles. Entrei então com o sermão de confiança. Repeti
po diversas vezes que cada um tinha uma responsabilidade e eu precisava confiar
neles, assim como eles tinham que confiar em mim.
Pela face do
Gabriel escorriam lágrimas e eu sabia que era de mágoa por ele saber que não tinha
alcançado minhas expectativas. A Rebecca não chorava (longe dela chorar
por conta de uma bronca), apenas desviava o olhar do meu e fazia caras e bocas;
e foi um milagre não ter respondido ou soltado uma pérola.
Falei muito.
Muito mesmo. Sim, eu confesso: descontei meu stress da tumultuada semana
neles.
Atirem
quantas pedras quiserem. Eu mereço!
Porém Deus
projetou crianças simplesmente maravilhosas e especiais pra mim. Não demorou
nada para que Ele me desse um tapa com luva de pelica e mostrasse quão
incríveis são meus filhos.
Depois que
surtei, mandei-os para o quarto ler o livro do Projeto de Leitura.
Continuei
sentada no sofá com a cabeça a milhão. Respirei fundo. Liguei a TV.
Depois de um
tempo, vi o Gabriel indo para o quarto da Rebecca, mas não me importei.
Continuei
sentada. Estava exausta e chateada porque o remorso começava a bater.
Creio que
deva ter passado mais de uma hora. Então vi os dois se aproximando com várias
folhas na mão e o rolo de fita adesiva. Começaram a colar pela casa os papéis
que, a princípio, imaginei serem desenhos.
“Quero ver
ser as coisas não vão mudar.” – falou o Gabriel enquanto colava o papel na
sala.
“Não põe tão
alto porque eu não alcanço pra ler, Biel!” – reclamou a Rebecca.
E foram para
a cozinha.
Levantei e
me aproximei. Não era um desenho. Era uma lista.
“Ei, o que é
isso, galerinha?” – perguntei curiosa.
“É uma lista
de regras e deveres, mãe. A gente criou essa lista pra seguir. Assim você não
fica mais brava nem estressada com a gente.” – respondeu serenamente meu
pequeno.
“E a gente
vai seguir tudinho, mamamia.” – completou ela.
Os dois
voltaram para o quarto.
Comecei a
ler a lista vagarosamente. Enquanto ria, também chorava. O remorso só aumentou.
O arrependimento fez meu coração doer. Meu Deus, são apenas crianças sendo
crianças e, de repente, estavam com uma postura muito mais madura que muitos
adultos: admitiram o erro e estavam dispostos a mudar e concertar as coisas.
Era segunda feira. Semana de provas. Estávamos estudando
para Geografia. Ela não conseguia se concentrar. Então decidimos inverter os
papéis. Ela me fazia as perguntas e eu respondia. Depois discutíamos juntas as
respostas. Na segunda pergunta já levei uma bronca:
“Quantos estados tem o Brasil, mamamia?”
“27.” – respondo toda confiante.
Ela arqueou a monocelha espantada.
“27? Errou! São 26 estados! Como você não sabe disso,
mamamia???”
Fiquei super constrangida.
“Ah, Becca, faz tempo que a mamãe estudou isso. A gente
acaba esquecendo...” – tentei amenizar o erro.
“Como você não sabe quantos estados tem o Brasil? Você tem
que saber! O Brasil é a sua pátria! É o lugar onde você nasceu!”
Vi que não havia desculpa para tentar disfarçar e fiquei em
silêncio, sentindo as bochechas queimarem. Mal sabia o que viria na
sequência...
“Não acredito! Uma pessoa que fez faculdade não saber
quantos estados tem o Brasil! Ai, mamamia, eu não esperava isso de você! Depois
fala que não aceita que eu tire 7 na prova, que eu tenho que tirar 8, 9 ou 10!
Você ía tirar ze-ro!!! E nem ía fazer faculdade!!!
Pois é... eu queria ser um avestruz pra enfiar minha cabeça
na areia.
Após levarmos a peruca para ajuste, optamos por passear na
Paulista ao invés de ficar na sala de espera até que tudo ficasse pronto.
Subimos a Rua Augusta vagarosamente, como turistas. Não
parecia que morávamos em SP. Olhávamos loja por loja, cada camelô, cada músico
de rua, cada estátua viva.
Entre uma apreciação e outra, ouvia:
“Olha, mamamia! A capinha de celular do Romero Britto!”
E por diversas vezes:
“Nossa, que vestido fashion!”
Até que a fome falou mais alto e paramos para comer um
lanche.
Enquanto esperávamos o pedido chegar, resolvi atualizar
minha irmã com o que estava acontecendo, mandando as fotos do nosso passeio,
etc e tal.
E lá veio a bronca:
“Eh, mamamia... você e esse celular! Não solta por nada!”
Olhei para os lados. Ufa! Ninguém próximo a nossa mesa.
Mesmo assim meu rosto corou.
“Becca, estou contando pra sua tia sobre o que estamos
fazendo.”
“Então agora para! – falou rispidamente. Agora é hora da
refeição e é hora sagrada! Guarda esse celular e vamos comer.”
Cheguei a abrir a boca para repreendê-la pela maneira como
falava comigo, porém coloquei a mão na cabeça e refleti. Seria justo repreendê-la
por estar me dizendo exatamente o que falo repetidamente quando ela está
assistindo TV ou jogando no tablet? Somos espelhos para nossos filhos, não é?
No final das contas, guardei o celular na bolsa. Confesso,
estava envergonhada por tomar uma bronca da minha filha de 7 anos, porém também
estava orgulhosa. Orgulhosa por ela e por mim.
Orgulhosa por ela ter prestado atenção e estar praticando o
que ensinei.
Orgulhosa por ela se preocupar em repassar o que ensinei,
mesmo que fosse para mim mesma.
Orgulhosa de mim, por ter passado um conceito tão simples e
ao mesmo tempo tão importante.
Parece que nos últimos meses, o mundo foi milagrosamente “infestado” por moralistas, puritanos e seres politicamente corretos que conseguem ser formadores de opinião, por mais vazias que estas sejam. Penso: do que as pessoas são capazes para chamar atenção e conquistar o maior numero de “curtidas” possível nas redes sociais?
Desde que a empresa O Boticário lançou a propaganda para o Dia dos Namorados com casais homoafetivos li e ouvi de tudo!!! De repente todos nos tornamos pessoas perfeitas, cheias de valores, índoles e caráter incontestáveis. Oh, como uma empresa poderia atacar a família? Como uma propaganda pode simplesmente, em um VT de 30’ denegrir e acabar definitivamente com a família?
Depois de ter visto a propaganda com meus filhos (o que causou inúmeras perguntas por parte deles) só consegui ter a plena certeza que a “família” está destruída há décadas. E, pasmem, não foram gays, lésbicas, bissexuais, travestis que destruíram a “família”! Foram os casais héteros que levaram a “clássica família” para o buraco. Foram os pais de família alcoólatras héteros que espancaram suas esposas e filhos, foram as mães de família héteros que traíram seus esposos, foram pais e mães héteros inconsequentes que não deram educação, proteção, amor e deixaram de criar laços afetivos e estrutura psicológica para seus filhos. Foram pais e mães héteros que não deram alicerce ou formaram o caráter de seus filhos. Desculpem-me os hipócritas, mas não foi a propaganda que O Boticário veiculou que rompeu com a sociedade. Foi a própria sociedade e sua hipocrisia que denegriu, quebrou e destruiu o valor do conceito família. Assisti por varias vezes o VT e só pude observar uma coisa: o amor e a dissipação do respeito. E é o amor que faz o ser humano melhor; é o amor que gera caráter, índole, estrutura. Não importa a forma de amor.
Mal passamos pelo “choque” com a propaganda lançada pelo O Boticário, me deparei com a propaganda da mesma empresa para o Dia dos Pais. O tema agora é adoção. É, adoção, aquilo que poucos queremos ouvir ou discutir. Adoção, que o próprio Estado dá as costas. Eu, na minha ignorante inocência, observei novamente a mensagem de amor e, confesso, me emocionei com o encontro da criança (já numa adoção tardia) com os pais.
Não bastou muito tempo para que os geniais filósofos de merda começassem a fazer comparações com a propaganda lançada já há algum tempo pela Coca-Cola, que também abordou o tema adoção. Depois de ler tantos absurdos por twitteiros, blogueiros e filósofos de Facebook, senti-me quase que na obrigação de expor minha opinião sobre um assunto. E, desta vez, falo como publicitária e mãe adotiva.
Como consumidora, não gosto dos produtos Cola-Cola, sejam refrigerantes, sucos, energéticos e derivados. Não, não odeio a empresa. Simplesmente seus produtos não estão dentro da gama de produtos que confio, gosto ou incluiria na alimentação da minha família (família esta que também não é nada tradicional, vista que sou mãe solteira e adotiva). Em termos técnicos, não faço parte do “target” da empresa. Mas, como publicitária, não posso deixar de admirar, aplaudir e tirar o chapéu para suas campanhas publicitárias. Não é a toa que é a marca mais valiosa do mundo! Coca-Cola não vende refrigerantes – ela vende emoções, sonhos, sensações, status, esperança, proteção, alegria. Coca-Cola é formadora de grupos sociais, interação entre eles. Mais uma vez quero deixar claro que não falo do produto, falo da empresa.
Por que falei tanto da Coca Cola? Porque O Boticário está passando pelo mesmo nível de criticas. E agora, vou falar como mãe adotiva...
Li em blog e no Facebook, que, assim como a propaganda da Coca-Cola, a propaganda dO Boticário é, mais uma vez preconceituosa. Alegam que ambas as empresas criaram um “estereótipos” tanto para o adotante como para o adotado. Estão criticando a campanha porque colocam casais brancos adotando crianças negras. Vi e revi a propaganda e não consigo ver outra mensagem senão a de que ADOÇÃO não é um bicho de sete cabeças. Que o assunto deve ser discutido e falado com a maior naturalidade. Não somos todos iguais, mas nem perante a lei! Mas devemos nos respeitar, aceitar nossas origens, sejam elas negras, asiáticas, nordestinas, brancas e acreditar que o amor é o que nos torna dignos, seja ele vindo de maneira tardia, de família com dois pais, duas mães, de mães ou pais solteiros, de pobres ou ricos.
Meus Deus, tudo agora é preconceito, racismo, assédio moral e sexual! Tudo agora é deturpação da moral e da ética e dos valores!
Alguém, que está criticando ambas as campanhas já se informou sobre o assunto? Alguém já foi visitar um abrigo para ver a realidade? Será que nunca perceberam a miscigenação do nosso país? O que há mais no Brasil: brancos ou pardos? Brancos ou mulatos? Brancos ou negros? Será que só eu percebo que os brancos não são a maioria por aqui?
Digo mais: alguém sabe por que há mais adotantes do que crianças a serem adotadas? Alguém imagina por que os processos de adoção duram em média 4 anos? Concordo que são nossas leis e burocracias, os processos burros e retrógrados assim como arcaicos, porém o que mas faz a adoção ser demorada em nosso país são por causa das pessoas. Exatamente: os casais querem crianças brancas, perfeitas, na maioria meninas e bebês. A minoria insignificante aceita crianças negras, maiores de 7 anos, com problemas físicos ou mentais (por menor que estes sejam). A sociedade ainda o pensamento utópico de formar uma família típica como nos comerciais de margarina!
E aí, onde está o estereótipo criado tanto pela Coca-Cola quanto pelo O Boticário? É a Coca-Cola ou O Boticário que são racistas ou é a sociedade em que vivemos? Isso é preconceito ou realidade?
Ainda sonho com alguma empresa tenha coragem para falar do mesmo tema e ainda colocar crianças negras ou com deficiências físicas e mentais!
Vamos, falsos moralistas, abram suas mentes e encarem as verdades cotidianas ao invés de querer jogar preconceitos que vocês mesmos tem nas mãos de empresas que estão escancarando e trazendo à tona assuntos que estamos todos tentando fingir que não existem ou que não nos afetam diretamente.
Ninguém está destruindo a família, ninguém está sendo preconceituoso a não sermos nós mesmos!
Vocês é que não tem coragem de dar a cara a tapa e ficam se escondendo através de falácias conservadoras.
Continuarei aplaudindo de pé atitudes de empresas como as que mencionei. Empresas que mostram a realidade, pregam o amor, independente de como seja essa forma de amor.
Cheguei em casa e estava a maior bagunça de
felicidade: a Rebecca havia perdido mais um dentinho de leite.
Terminado o jantar ela correu em direção do quarto gritando:
"Socorro!
Preciso arrumar meu quarto pra fadinha do dente ter uma boa impressão de mim,
tirar tudo do caminho pra ela não tropeçar! Quando ela ver tudo arrumado, vai
pensar: Nossa, que menina tão perfeita e bem educada! Aí ela pode me dar até
mais dinheiro!"
O passeio ao cinema me rendeu até uma bronca da minha pequena.
Como eu
havia dito: ela voltou! Voltou para “causar”!
Entramos
na sala e antes que começasse a exibição das normas de segurança e traillers,
aproveitei para verificar meus e-mails e mensagens. Eis que Rebecca fala em
alto e tom ríspido:
“Mamãe,
você não sabia que é falta de educação deixar o celular ligado no cinema?”
Eu, ainda sem graça, tentei disfarçar:
“Oras,
Becca, ainda não começou!”
“Não tem
importância, nós já entramos. Tem que desligar esse celular. Primeiro você fica
falando: não pode conversar durante o filme, não pode levantar, não pode fazer
barulho, não pode atrapalhar e agora fica aí mexendo nesse celular? Depois eu e
o Biel é que fazemos feio e passamos vergonha!”
Fiquei
estarrecida! Absolutamente não havia resposta a ser dada. O que fiz? Depois de
uma dessas, acionei o modo hibernar e joguei o celular dentro da bolsa. Minha
vontade era de colocar um cadeado nela, assegurando que eu mesma não abriria
para pegar o celular, nem para ver a hora. Mas, na falta de um cadeado, joguei
a bolsa na cadeira vizinha.
Se quer
tive coragem de olhar para os lados porque já sentia meu rosto queimando de
vergonha.
Não
bastasse a bronca, ela ainda fechou com chave de ouro:
Como eu havia escrito no post anterior, estava muito, muito
brava com Deus.
Entrei na sala do pós cirúrgico aos prantos. Gentilmente uma
enfermeira colocou uma cadeira ao lado da cama onde minha pequena repousava. Sentei
e automaticamente me debrucei, sem poder aguentar a pressão que sentia em meu
peito. Os pensamentos passavam por minha mente numa velocidade que eu jamais poderei explicar. Em segundos tive
flashes de quando a vi pela primeira vez, do choro, do bebê agressivo, das
mordidas, dos primeiros passos tímidos, do primeiro xixi no vaso sanitário, das
primeiras palavras, dos chiliques e ataques de nervos por absolutamente nada,
dos escândalos para escovar os dentes, das madrugadas que se levantava e, mesmo
no escuro, saía do quarto e vinha se deitar na minha cama... de repente, a
primeira cirurgia! Meus Deus, como passara tão rápido! Ao mesmo tempo
lembrava-me dos joelhos no chão, pedindo paciência, das orações pedindo que o
melhor fosse feito para ela, mesmo contra minha vontade.
Quantas noites acordada pensando na adolescência, a fase
mais complicada da vida de qualquer ser humano? E quantas noites alimentando a
esperança que com as cirurgias as sequelas iriam amenizar? Não, não e não! Eu não
entendia! Quando menos esperei, os soluços preenchiam o vazio da sala.
Então ouvi aquela voz miúda, trêmula e sofrida perto de mim:
“Não chora, mamãe. Eu tô bem.”
Fui dominada por uma emoção que também jamais saberei
explicar. E, novamente, a mesma voz sufoca meus soluços:
“Por favor, não chora, mamãe.”
Quando levantei a cabeça notei que era a vozinha da Rebecca,
que ainda estava com os olhos cerrados. Naquele momento precisei me calar, mesmo que não pudesse, mesmo que não quisesse. Não consegui conter as lágrimas, mas tive que engolir os soluços, um a um. Então vi a mãozinha dela procurando a minha... (continua)
Já eram 18:20 quando fui informada do término da cirurgia.
Não entendia porque demorara tanto e meu coração estava tão acelerado que meu peito doía, como se a cada palpitar, tentasse abrir meu diafragma.
Saí da sala de espera e entrei no centro cirúrgico no exato instante em que retiravam minha pequena de uma das salas para encaminhá-la à observação. Ainda estava anestesiada e entubada, dando a impressão que estava sem vida. Fui ao encontro da maca, os olhos cheios de água, o peito doendo e a mente confusa. Antes de me aproximar, vi a Doutora Giovana sair da sala e foi impossível não abordá-la. Perguntei o que havia acontecido e ouvi as palavras que eu mais temia desde que iniciou-se todo o processo de reconstrução capilar.
"Mãe, não podemos fazer mais nada. Todo o tecido está comprometido. Tivemos que retirar boa parte porque o tecido estava muito fino. Quanto mais mexermos, é perigoso perder o que tem. Infelizmente, mãe, não há qualquer possibilidade de reconstruir o couro cabeludo cirurgicamente."
Minhas pernas amoleceram e senti um calafrio correr pelo meu corpo exausto. Meu coração acelerou ainda mais aumentando a pressão em meu peito. E o inevitável aconteceu: lágrimas espessas correram por todo meu rosto fazendo com que minhas pálpebras e a pele queimassem. Senti os olhos arderem como se eu chorasse ácido.
Tentei classificar a dor, mas não havia como! Repassei uma longa retrospectiva da minha vida em segundos procurando lembrar de alguma dor que pudesse ser comparada a que eu sentia no momento. Tentativa inútil! Jamais sentira algo parecido.
Chorei até soluçar, chamando a atenção dos anestesistas, cirurgiões e enfermeiros. Lembro-me das mãos quentes da doutora Giovana nos meus ombros procurando me consolar e me dar forças.
Foi então que senti a sala ficar enorme e o vazio ficar cada vez maior. O pânico entrava por cada poro do meu corpo e não havia nada que eu pudesse fazer para aliviar a sensação de desespero.
Naquela hora quis sentir um abraço, mas não havia ninguém para abraçar. Quis gritar um monte de palavrões, mas não havia ninguém para me ouvir. Quis que alguém me dissesse qualquer coisa, não importava o quê, até porque eu nem ouviria. Eu levara um golpe da vida e, só para variar, estava sozinha. Talvez estivéssemos apenas Deus e eu, porém eu evitei pensar em Deus. Ao lembrar Dele, senti angústia misturada à raiva e revolta.
" Então foi pra isso, Deus, que você colocou a Becca na minha vida? Pra eu fracassar quando minha maior missão era garantir, ao menos, a qualidade de vida dela? Foi pra isso? Pra eu autorizar 12 procedimentos cirúrgicos e ser a responsável por fazê-la sofrer? Pra eu me sentir impotente e, sobretudo, ser a pessoa que terá que confessar o fracasso da batalha mais importante da vida dela? Você me escolheu para olhar nos olhos dela e anunciar que ela será uma criança, uma garota, uma adolescente, uma mulher sem cabelo? Sou eu quem terá que olhar para ela todos os dias e ouvir seus desejos de ter cabelos, sejam eles lisos, encaracolados, crespos? Fui escolhida para todos os dias colocar o chapéu, boina ou lenço em sua cabeça para esconder as marcas de algo que não pude dar a ela? Foi pra retirar meu ar que Você me encheu de esperança? Por que me encheu de esperança, me deu força e coragem para correr atrás de cirurgias, expansores, noites sem dormir? Esse era o objetivo? Me fazer passar por ansiedade, tristeza e agora essa dor indescritível?"
Não era o melhor momento para pensar em Deus. Estava brava, nervosa, revoltada, triste e havia perdido a razão. Hoje, após um mês, fico imaginando: se tivesse alguém comigo naquele momento talvez eu não tivesse ficado tão brava com Deus, talvez minha dor não fosse tão perturbadora. A única coisa que posso dizer agora é: se você conhece alguém que vai ficar na sala de espera enquanto um ente querido passa por procedimento cirúrgico, não meça esforços para fazer companhia. Tenha certeza: fará toda diferença. Passar por instantes agonizantes como o que narrei e ter somente as paredes brancas e frias ao seu redor só fazem aumentar o desespero. E também torça para que você nunca seja o responsável por ter assinado o formulário de autorização para a cirurgia... (continua)
Como todo domingo de preguiça, as crianças e eu decidimos assistir um
filme.
Claro, a escolha é sempre deles; sou mera expectadora. E a animação da
vez foi Rango, um camaleão de estimação que entra em crise de identidade ao se
ver perdido numa cidade do velho oeste precisando mudar radicalmente seu estilo
de vida para viver um mundo real.
Confesso que estava no sofá apenas para fazer companhia aos meus
pequenos. Como já havíamos assistido aquela animação pelo menos umas 15 vezes, não
conseguia me concentrar e meus pensamentos voavam perdidos. Foi então que ouvi a
conversa das crianças:
“Você viu, Becca? Eles estão brigando por causa de água!” – comentou o Gabriel com ar de preocupação.
“Xiiiiii, tá igualzinho nossa cidade!” - a expressão na voz da Rebecca
era de aflição.
“A diferença é que aqui não é deserto. Lá a gente até entende não ter
água, mas aqui não dá, né?” completou ele.
“Acho melhor todo mundo começar a orar pra Deusu pedindo pra chover
senão a gente vai morrer de sede. A gente tá sem água desde ontem. A gente tá é
lascado!”
“Eu vou começar a pedir chuva na oração de hoje, sem falta. Não adianta
só ficar falando: Olha o planeta, olha o planeta! Tem que orar. E muito!”
Nunca imaginei que a crise hídrica de São Paulo fosse preocupar meus
filhos. Estávamos sem água desde a madrugada de sábado e só retornou na noite
de segunda feira.
A que ponto chegamos, não? O que era assunto de adulto já está se
transformando em preocupação de criança.
E nós, adultos, pensamos que os pequenos não estão prestando atenção. Pelo
contrário, estão alertas, atentos e, sobretudo, muito mais conscientes.