Vou agora relatar a parte que mais me causou comoção. Ainda era 17 de Dezembro. E meu coração tinha muito mais a suportar. Muita coisa para um único dia, mas agradeço por tudo ter vindo de uma vez; assim fora melhor porque eu aprendi que aguento muito mais do que eu imaginava.
Boa leitura!
E eu tentei abraçar, tentei beijar, brincar, cantarolar, fazer cócegas... nada funcionava! Decidi colocá-la sentada no chão. E assim deixei, até que, com muito custo, ela ficasse um pouquinho mais calma. E peguei brinquedinhos para me aproximar, mas a pequena Y resmungava brava e virava o rosto.
Tentei a todo custo evitar a situação que seguiria, mas era impossível! Comecei a observá-la e ao mesmo tempo procurar entendê-la. Tão pequena e tão valente. Um dos olhos não tinha rumo certo; parecia estar perdido, pois ela não o controlava – mexia intensamente de um lado para o outro, para cima e para baixo. Metade da sobrancelha não existia, apenas uma pele fina, tão esticada que parecia que a qualquer momento iria se rasgar, vermelha e muito brilhante. Dava para notar perfeitamente que aquela pele fora tirada de outro canto do corpo, porque estava remendada. De um canto a outra da testa uma cicatriz. Cabelos ralos e entre eles outras cicatrizes de corte; além disso, da metade do crânio para baixo outro pedaço de pele que fora colocado ali, como um remendo. Cicatrizes e mais cicatrizes de pontos. O nariz pequeno e era lindo, uma pena ter apenas uma narina perfeita, a outra, sem carne ou pele, deixava os pelos expostos. A boca, totalmente repuxada no canto direito deixava pequenos dentes expostos; dentes pequeninos e já com sinais de cárie. Criei uma linha imaginária e dividi a face em duas partes. Um lado perfeito, delicado, sobrancelha arqueada e bem desenhada sobre um olho bem feito e claro, na cor cinza, lindo. Aquele narizinho como se tivesse sido pintado por um pintor e abaixo aquele lábio fino e que, junto com o queixo, fechava uma escultura em carne e pele. O outro lado, oh, meu Deus... era como um rostinho de uma boneca de cera derretida.
Então não pude me conter. Meu coração estava machucado agora. Trincou-se e os pedaços pareciam cair ao chão. Um desejo súbito de sair da sala me tomou, não porque eu a rejeitasse, pelo contrário, queria correr descontroladamente até encontrar os monstros responsáveis por aquilo. Meus olhos viam, mas minha mente não queria acreditar. Que sensação de revolta me consumiu! Duas lágrimas grossas escorreram pela minha face tentando acalmar meu coração despedaçado. O que eu via ali era uma cena muito além da minha realidade, do meu mundinho. É como se eu vivesse num universo paralelo ou participasse de uma cena de um filme.
Chorona? Estressada? Geniosa? Nervosa? Como podiam caracterizar aquele bebê assim?
Oras, estava estampado que ela estava tentando apenas se defender... ela sabia que era sozinha... 13 meses em um hospital com pessoas estranhas, nunca encontrando um colo de mãe, depois mais 5 meses num abrigo com outras pessoas que ela também não sabia quem era. Ela estava jogando e tentando sobreviver. Todos eram uma ameaça. Em quem confiar? Não havia ninguém para defendê-la.
O pequeno W aproximou-se e olhou para a Y durante muitos segundo:
- Ela é dodói, você sabia?
Haja coração! Outra criança sentindo tristeza pela outra!
Então eu vi suas pequenas mãozinhas fazendo carinho nos braços dela. Os braços da Y eram cheios de quelóides e foi então que notei a falta do dedo mínimo naquela mãozinha tão pequena e rechonchuda.
Quando senti que meu pranto aumentaria, prendi o fôlego, limpei as lágrimas e só depois expirei. Um pensamento veio à minha cabeça tão perturbada. Olhei para a Sra. S e falei:
- Você poderia chamar a minha mãe?
Continua...
Boa leitura!
Fiquei estática. E a Sra. S entrou na sala com o pequeno W.
Não pude evitar o sorriso misturado com as lágrimas.
Meu Deus! Ele era tão pequenino, tão fofo, tão meigo! A pele parda, aqueles cabelinhos cacheados, como de um anjinho, só que negros como seus olhinhos. Me aproximei e pedi um beijo e um abraço, no que fui atendida prontamente.
- Por que você está chorando? – ele me abraçou. – É você que vai ser a minha mamãe?
Enquanto eu limpava as lágrimas e pensava no que falar, a Sra. S interferiu:
- W, ela veio te conhecer. Depois a gente fala sobre isso.
- Mas, tia S, ela é a minha mamãe!
Eu gargalhei. Nunca ouvira uma afirmação com tamanha seriedade.
- Bom, vou deixar vocês aqui e vou buscar a Y. – disse a Sra. S.
Aí entrei em desespero. Fui tomada pelo pânico e pelo medo.
Enquanto aguardava a chegada da Y, o W e eu começamos a conversar e nos conhecer. Tivemos uma afinidade muito rápida. Ele logo veio para o meu colo e me encheu de perguntas: “Qual o seu nome? Quantos anos você tem? E quem é você? E você mora onde? E para onde você vai agora? Qual é mesmo o seu nome? Como é a sua casa? E quantos anos você tem? Você vai me levar com você?”
Meu coração apertou. Que judiação! Será que ela sentia dores?
Coloquei o W no chão e me aproximei para pegar a Y nos braços. Não, ela não foi nem um pouco receptiva. Virou as costas e berrou. E eu, claro, fiquei sem jeito, sem saber o que fazer.
- Pode pegar. – disse a Sra. S – Se formos esperar, ela não vai parar de chorar nem ir pro seu colo espontaneamente.
Estendi meus braços e o choro aumentou. Passei as mãos nas costinhas dela dizendo: “Vem um pouquinho comigo, Y.” E ela começou a se debater.
A Sra. S colocou a pequena Y em meus braços e o choro transformou-se em gritos de desespero. E ela puxou meus cabelos (que precisei prender depois), arranhou meus braços, pescoço e face. E a Sra. S ficou no canto da sala, apenas observando meu olhar desesperado pedindo socorro.
- Ela é assim mesmo, não se assuste.
E eu tentei abraçar, tentei beijar, brincar, cantarolar, fazer cócegas... nada funcionava! Decidi colocá-la sentada no chão. E assim deixei, até que, com muito custo, ela ficasse um pouquinho mais calma. E peguei brinquedinhos para me aproximar, mas a pequena Y resmungava brava e virava o rosto.Tentei a todo custo evitar a situação que seguiria, mas era impossível! Comecei a observá-la e ao mesmo tempo procurar entendê-la. Tão pequena e tão valente. Um dos olhos não tinha rumo certo; parecia estar perdido, pois ela não o controlava – mexia intensamente de um lado para o outro, para cima e para baixo. Metade da sobrancelha não existia, apenas uma pele fina, tão esticada que parecia que a qualquer momento iria se rasgar, vermelha e muito brilhante. Dava para notar perfeitamente que aquela pele fora tirada de outro canto do corpo, porque estava remendada. De um canto a outra da testa uma cicatriz. Cabelos ralos e entre eles outras cicatrizes de corte; além disso, da metade do crânio para baixo outro pedaço de pele que fora colocado ali, como um remendo. Cicatrizes e mais cicatrizes de pontos. O nariz pequeno e era lindo, uma pena ter apenas uma narina perfeita, a outra, sem carne ou pele, deixava os pelos expostos. A boca, totalmente repuxada no canto direito deixava pequenos dentes expostos; dentes pequeninos e já com sinais de cárie. Criei uma linha imaginária e dividi a face em duas partes. Um lado perfeito, delicado, sobrancelha arqueada e bem desenhada sobre um olho bem feito e claro, na cor cinza, lindo. Aquele narizinho como se tivesse sido pintado por um pintor e abaixo aquele lábio fino e que, junto com o queixo, fechava uma escultura em carne e pele. O outro lado, oh, meu Deus... era como um rostinho de uma boneca de cera derretida.
Então não pude me conter. Meu coração estava machucado agora. Trincou-se e os pedaços pareciam cair ao chão. Um desejo súbito de sair da sala me tomou, não porque eu a rejeitasse, pelo contrário, queria correr descontroladamente até encontrar os monstros responsáveis por aquilo. Meus olhos viam, mas minha mente não queria acreditar. Que sensação de revolta me consumiu! Duas lágrimas grossas escorreram pela minha face tentando acalmar meu coração despedaçado. O que eu via ali era uma cena muito além da minha realidade, do meu mundinho. É como se eu vivesse num universo paralelo ou participasse de uma cena de um filme.Chorona? Estressada? Geniosa? Nervosa? Como podiam caracterizar aquele bebê assim?
Oras, estava estampado que ela estava tentando apenas se defender... ela sabia que era sozinha... 13 meses em um hospital com pessoas estranhas, nunca encontrando um colo de mãe, depois mais 5 meses num abrigo com outras pessoas que ela também não sabia quem era. Ela estava jogando e tentando sobreviver. Todos eram uma ameaça. Em quem confiar? Não havia ninguém para defendê-la.
O pequeno W aproximou-se e olhou para a Y durante muitos segundo:
- Ela é dodói, você sabia?
Haja coração! Outra criança sentindo tristeza pela outra!
Então eu vi suas pequenas mãozinhas fazendo carinho nos braços dela. Os braços da Y eram cheios de quelóides e foi então que notei a falta do dedo mínimo naquela mãozinha tão pequena e rechonchuda.Quando senti que meu pranto aumentaria, prendi o fôlego, limpei as lágrimas e só depois expirei. Um pensamento veio à minha cabeça tão perturbada. Olhei para a Sra. S e falei:
- Você poderia chamar a minha mãe?
Continua...


Incredible!!!
ResponderExcluirDepois comento melhor.
Maknim
El.... como vc faz uma coisa dessa com a gente... colocando esse " continua.." ???!!! Faz favor de colocar o teclado para trabalhar aí... vamos...rs...
ResponderExcluirParabéns amiga por esse lindo gesto de amar!!!!
beijos...
Fernanda Stela
PS: já postou a proxima parte? e agora? já foi? sim? e agora???? tá demorando
Calma, Fernanda!
ResponderExcluirEu sei que tá parecendo uma novela, mas espere o próximo capítulo!
Preciso de tempo e inspiração pra escrever!
Paciência! Rs....