segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ABRINDO PARÊNTESES



Devido a alguns comentários e, principalmente pelos e-mails que recebi, devo abrir um parênteses no que tenho escrito para poder esclarecer alguns pontos, que ao que notei, ficaram obscuros e acabaram sendo mal entendidos/interpretados.

Primeiramente gostaria de escrever com todas as letras, em negrito e caixa alta que a entrada das duas crianças na minha vida foi o acontecimento mais marcante, completo e importante de minha vida. E tenho certeza que não haverá até o resto de meus dias um único momento que poderá ser equivalente ou que chegará próximo dele. Deixo aqui também o registro de que minha vida "começou" quando eu os conheci; o que tinha antes não era vida, eram apenas dias após dias. Nunca tive dúvidas se eu estava disposta ou pronta para assumí-los. Jamais me encontrei confusa sem saber se eram realmente as crianças "certas" - os amei desde o primeiro olhar e eu sei que há e que sempre haverá infinitas pessoas que jamais acreditarão que eu já os amava sem nem ao menos conhecê-los.

Foi naquela tarde de sexta-feira que enxerguei cores pela primeira vez. De repente meu mundo deixou de ser monocromático e cada minúsculo pedaço de cada coisa que me rodeava recebeu uma pincelada com cores diferentes. Ali, conheci verdadeiramente o arco-íris porque as nuvens cinzas e carregadas se dispersavam e deixavam um céu azul ao alcance dos meus olhos tristes. Não quero nem pensar em como seria minha vida hoje sem eles. Afasto todo e qualquer pensamento que me faça imaginar se, por algum motivo, tenhamos que nos separar porque eu vegetaria e morreria à míngua.

Não, não e não! Nunca me arrependi por ter decidido trazê-los para o meu convívio.

Talvez, você que não é pai ou mãe não conseguirá responder as perguntas que colocarei a seguir, mas tenho certeza que qualquer pai ou mãe, que tente se colocar no meu momento atual, sentirá as mesmas incertezas que descreverei.

Pronto? Preparado?

Não houve vez em que você se sentiu impotente diante de seu filho por não poder assistí-lo da maneira que achava plenamente satisfatória?

Não existiu, ao menos uma vez, uma ponta de dúvida se você estava defendendo seu filho exatamente da maneira como você julgava que ele merecia?

Você nunca se sentiu inseguro por não saber se conseguiria exercer sua função de maneira perfeita? Nunca sentiu medo por saber que não é perfeito?

Pense, ao menos por um segundo, se nunca sentiu seu coração esmigalhado por compreender os motivos pelos quais seu filho deseja o brinquedo amarelo, mas você só pode oferecer o verde.

Seu coração e mente jamais foram invadidos por pânico quando você pensou que talvez não conseguiria fazer seu filho completamente feliz?

Nunca entrou em desespero por saber que o conforto dele não era garantido? Que talvez no próximo aniversário ele não teria um presente ou o bolo de tradição? Ou que no próximo inverno ele usaria as mesmas roupas surradas e, provavelmente, pequenas? 

O futuro nunca o colocou em situação de desespero? Será que seu filho cursaria a melhor escola? Chegaria à faculdade?

Você conseguiria cumprir todas as suas funções de pai/mãe? Claro, afinal de contas você decidiu por trazer aquela vida ao mundo e simplesmente cruzaria os braços e ficaria tranquilo sabendo que o futuro dele não estava garantido enquanto você tenta se equilibrar numa corda bamba?

Francamente, você nunca se sentiu culpado por saber que as privações de seu filho eram única e exclusivamente por falha sua?

Nunca andou pela rua e deparou-se com uma roupa, brinquedo ou chocolate mais caro que faria a felicidade do seu filho e sentiu-se envergonhado por não ter uma moeda no bolso? Jamais saiu de uma loja ou supermercado triste sabendo que deixara para trás uma surpresa para ele?

...

Tenho um milhão de perguntas para fazer, mas creio que você já conseguiu entender a essência do que tentei explicar.

Consegue agora pensar como eu por mais que não concorde?

A dor que venho carregando é a de saber que o destino de duas vidas está nas minhas mãos e, não consigo entender o motivo, tenho a sensação que na verdade nenhuma diferença faço no destino delas? É a angústia de uma mulher que planejou a vida de cada um deles, que foi atrás sem medos, que dedicou cada dia seu para garantir o mínimo de sucesso e agora está mergulhada em fracasso. Não são lamentações ao acaso ou uma maneira repentina de querer ser "vítima".

Tenho certeza que fiz tudo certo. Tenho a certeza porque tenho um passado que prova. E quando falo que estou sendo egoísta é exatamente porque não tenho direito de privar meus filhos do que eles possam ter de melhor. Minha preocupação é demasiada porque não consigo cumprir neste momento aquilo que propus a mim mesma, em primeiro lugar. Não quero que meu fracasso faça deles pessoas incompletas.
Por que penso assim?
Bem, você não sabe o que é ser mãe adotiva. Tudo e todos cobram em dobro cada atitude sua.

"Tá vendo? Por que foi inventar? Não adianta querer ser a boa samaritana! Bobagem! Tá vendo, você não garantiu o Reino dos Céus. A culpa é sua. Não consegue lidar com responsabilidades, não fosse atrás, se meter onde nunca foi chamada. Nenhuma das crianças veio pedir nada a você. Muito pelo contrário: você prometeu um monte de coisa e agora não pode cumprir. Se não tem capacidade, que as deixasse lá. Se não pode, não adote!"

Isso só me faz acreditar que errei.
Por que me sinto tão culpada?
Estou no débito com eles. 

Eu achava que mudaria a história de duas pessoas. Não, em nada estou mudando. Mero engano meu. São eles que já mudaram a minha vida... para muito, muito melhor!

(Fechando parênteses)

2 comentários:

  1. Bom... já que é para dar minha opinião vai lá! Vc mudou sim a vida deles! Para melhor! Vc vai mostrar o que é lutar, não desistir, amor, família. Críticas sempre terão! Não somos perfeitos mas eles verão que o " perfeito " vc dará a eles. Vc vai mostrar a eles o que é ser feliz, o que é carinho e quto é dificil ter tudo o que queremos. Vc vai mostrar que dinheiro não é tudo. Vc vai mostrar que a vida é difícil mas não podemos desistir. Já pensei se eles estivessem ainda no lar? Pode ser o melhor abrigo, mas cadê a Vó, A mãe, o Vô, a Tia que tão é importante para nosso crescimento como pessoa. Hoje cedo eu estava sozinha na minha cozinha tomando meu café, abri a porta da cozinha para ver o " nada " e veio na minha mente o qto sou agradecido pelos meus pais serem tao presentes em minha vida. Como sou grata a eles que me mostraram a beleza e a dor de um sucesso e o qto eu tive apoio incondicional deles todos os dias de minha vida.
    bjs Nane e continuo orando por vc.

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  2. Faço minhas as palavras da tosca, e mantenho minha opinião do outro comentário. Você justificou uma coisa que na verdade eu sei que é dura, eu sei que é difícil passar por isso, sentir o que você está sentindo, mas você vai ver, você não está a toa com elas, e pode ter certeza, não é só a sua vida que está sendo mudada por eles, a deles também, e muito, como disse a tosca, e eu disse, e você mesma já viu a evolução que eles tiveram no período que estão com você. Você faz "TODA" a diferença no destino delas, e sinceramente, com certeza você não errou e ninguém vai te culpar por não dar o melhor que eles mereciam (em coisas), mas com certeza em "vida", em "amor" e tudo que vem englobado dentro disso. Você tem que colocar na cabeça que toda situação é temporária, e lutando, tudo vai melhorar, e se não melhorar, não desista de lutar, porque vale a pena, e eles te mostrarão isso à medida que forem crescendo. Não se sinta envergonhada, porque você é exemplo para qualquer um que conhece sua história, mas é exemplo principalmente para as crianças.

    Repetindo:
    VOCÊ PRECISA ACREDITAR MAIS EM VOCÊ!

    Bj.
    27

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