Eu já havia abandonado a segurança do meu mundo por amor.
Eu sabia o que queria.
Mas nem sempre querer é poder.

"Se eu tivesse dito não, toda a história deles mudaria. Provavelmente hoje eles estariam com uma família de status, usando roupas e sapatos de grife, estudando no melhor colégio, tendo a oportunidade de viajar em cada feriado ou fim de semana. Estariam rodeados com os mais incríveis brinquedos. Teriam e conheceriam o melhor: os melhores lugares da cidade, a melhor comida e a melhor bebida. Teriam um casa ou apartamento grande e espaçoso, que proporcionasse muito mais conforto. Um condomínio fechado, com segurança, playground, piscina. Ah, com certeza teriam a comemoração de cada ano no melhor salão e buffet infantil da cidade. Seriam acompanhados pelos melhores profissionais da saúde. Provavelmente já praticariam natação, judô, futebol, balé, inglês, espanhol.
E comigo, o que eles tem? Tem de tudo, porém do mais simples. Estão numa escolinha municipal e mais o quê?
Agora a verdade corrói minha alma porque eu noto o quanto fui egoísta. Se eles não estão com o que merecem de melhor é unica e exclusivamente por culpa minha, que não deixei o caminho deles livre.
Todos os dias, silenciosamente, peço perdão a cada um deles porque eu sei que errei.
Errei mas, do fundo do meu coração, foi com muita vontade de acertar."

Todos os dias olho para o céu e converso com Deus. Peço força e ajuda. Pergunto qual a razão de cada porta fechada... mas Ele não me responde e parece nem me ouvir.
Arrependida e desconsolada, eu tenho a sensação que Deus me esqueceu.
Eu sabia o que queria.
Mas nem sempre querer é poder.
Era hora de voltar para o mundo real.
Estava tudo muito bom. Estava tudo muito bem. Mas no faz de conta. Apenas nos meus planejamentos.
Que tal recapitular?
Planejamento: Dossiê de adoção - aprovação - fila de espera. Enquanto permanecia na fila de espera: terreno, obra, construção, casa, acabamento, mobília.
Realidade: desemprego, terreno, obra inacabada, sem dinheiro e... duas crianças?
Levei um bofetão de mim mesma. Caiu um balde de água gelada sobre a minha cabeça. Tomei uma descarga elétrica.
Tudo que acontecera na sexta-feira tinha sido encantador, mágico, emocionante, quase um capítulo final de uma novela mexicana, um verdadeiro conto dos irmãos Grimm.
Agora era sábado de manhã e eu acabara de acordar. Eu só dormi porque tomei um calmante. E eu só tinha sábado e domingo para ter certeza da resposta que eu daria à assistente social, na segunda-feira. E a resposta que eu desse mudaria minha vida para sempre e, dependendo da resposta, não apenas a minha vida, mas de todos que estavam à minha volta e, principalmente, de quem entraria nela.
Ainda lutando contra mim mesma, fiquei por horas na cama avaliando prós e contras. Pelo incrível que parecesse, havia bem menos coisas contras, porém elas tinham um peso muito maior. Decidi ter a palavra final com Dona Flor, a grande matriarca.
Estávamos sentadas na cozinha, mãos sobre a mesa.
- Mãe, não dá. Precisamos cair na realidade. Eu quero, mas preciso entender que agora não dá.
- E por que você acha que não dá? - indagou Dona Flor com olhar aflito.
- Oras, mãe... eu ainda não me recoloquei profissionalmente. Já estou desempregada há mais de 6 meses... - antes que continuasse, ela interrompeu.
- Não está trabalhando porque disse que queria organizar primeiro todos os documentos pendentes do seu terreno e planejar a construção da casa do jeito que você sempre quis.
- Mas mesmo assim, mãe. São duas crianças. Gasto dobrado. E você sabe que todo meu dinheiro foi para quitar o terreno e levantar a casa. Não tenho dinheiro para o acabamento.
- Elaine,filha, sei que em breve você estará empregada e poderá terminar sua casa. Enquanto isso as crianças ficam aqui, qual o problema? Espaço não falta. Você pode até montar um quarto para as duas ou se quiser, um quarto para cada um. Olha o tamanho dessa casa apenas para três crianças. Para que eu quero dois quartos sobrando?
- Mãe, as crianças não vivem só de dormir. Elas comem, bebem. Vão precisar de roupas, brinquedos...
- Você não tem a poupança delas? De início você pode usar um pouco do dinheiro para essas coisinhas. Quanto a comer e beber, você pode deixar comigo e com seu pai. Além de não fazer diferença, teremos o maior prazer em ter essas crianças aqui.
- Mãe, você sabe que a poupança é para cursos e faculdade. E tem outra, não quero vocês sustentando meus filhos. É um problema meu, eu quero administrar!
- E para quê existe pai e mãe se não for para ajudar os filhos? E sobre a poupança, você continua depois.
- Não. Não é assim. Eu nem sei quanto tempo vou ficar desempregada.
- Filha, você é formada, tem experiência. Tenho fé em Deus que já já estará empregada, cuidando e criando seus filhos, terminando sua casa e, depois, ficando sossegada.
Fiquei em silêncio. Impossível querer argumentar com Dona Flor. Ela tinha réplica para tudo. Abaixei a cabeça, suspirei e falei, sem olhar para ela:
- Mas eu decidi. Vou ligar para a Sra. X e dizer que não será dessa vez. Você me conhece; eu vivo com os pés no chão. Não sei sonhar.
- O quê??? - Dona Flor levantou-se num acesso de indignação. - Você terá coragem de deixar aquelas duas criaturazinhas, que você sentiu serem seus filhos por causa de um orgulho bobo? De jeito nenhum!!! Não vou deixar!!! O Fórum nem precisa saber que você está desempregada. A princípio não será como você quer, mas nada faltará à essas crianças. Depois que você começar a trabalhar será do seu jeito.
- Mãe, não é assim que funciona! Eu ainda não estou preparada e sei que elas apareceram agora exatamente para eu perceber que não é o momento.
- É o momento sim! E é o momento para te desafiar e mostrar do quanto você é capaz!!! Não está preparada? Ah, mas vai aprender! São elas e pronto. E quer saber? Eu não vou ficar sem aquelas crianças!!!
- Mãe, quem decide sou eu, não é assim!
- É assim, sim! Eu já não garanti que não deixaremos nada faltar. Elas não terão vida de artistas, mas todo o essencial elas terão! E terão o mais importante que é um lar, uma família, uma mãe e muito, mas muito amor!!!
Em fração de segundos avaliei a situação sob o ponto de vista da Dona Flor. Estaria ela certa? Estaria sendo levada pela compulsão? Ou estaria eu sendo pessimista demais? Ou orgulhosa e medrosa demais?
Meu coração já tinha uma decisão. Mas eu nunca ouvira o coração; quem reinava era a razão. E, sem deixar a razão falar primeiro, decidi:
- Ok, mãe. Você me convenceu. Segunda-feira ligarei para a Sra. X e direi que ficarei com as crianças.

Dona Flor voltou a ser aquela mulher doce, serena como seu próprio nome. Sorrindo veio me abraçar. Abraço macio, gostoso, mesmo com os quase 33 graus de temperatura ambiente.
E assim ficou decidido.
Se, antes de pegar o telefone e ligar para o Fórum eu pudesse ter a oportunidade de prever, ao menos, alguns dias do futuro, seria bem provável que eu desse outra resposta e não tivesse nada disso para escrever. Hoje, que já é 08 de Setembro de 2011 e, daquela situação exposta e conversada, nada mudou.
Incrível a diferença entre um sim e um não. Espetacular o poder destas palavras que contém apenas 3 letras. Elas são capazes de mudar o presente e um futuro todo pela frente.
Continuo aqui, aflita, desesperada. Na verdade, estou me sentindo cansada porque eu corro, corro e corro, mas parece que a linha de chegada nunca chega. Eu faço e refaço, mas nada acontece. Está tudo estagnado.
Minha fé fica abalada. Há momentos em que o arrependimento me sobe à cabeça. Não pela adoção, não pelos meus filhos. Eu os amo e isso é indiscutível. Mas, como mãe, que quer o bem deles eu me pego a pensar:
"Se eu tivesse dito não, toda a história deles mudaria. Provavelmente hoje eles estariam com uma família de status, usando roupas e sapatos de grife, estudando no melhor colégio, tendo a oportunidade de viajar em cada feriado ou fim de semana. Estariam rodeados com os mais incríveis brinquedos. Teriam e conheceriam o melhor: os melhores lugares da cidade, a melhor comida e a melhor bebida. Teriam um casa ou apartamento grande e espaçoso, que proporcionasse muito mais conforto. Um condomínio fechado, com segurança, playground, piscina. Ah, com certeza teriam a comemoração de cada ano no melhor salão e buffet infantil da cidade. Seriam acompanhados pelos melhores profissionais da saúde. Provavelmente já praticariam natação, judô, futebol, balé, inglês, espanhol.
E comigo, o que eles tem? Tem de tudo, porém do mais simples. Estão numa escolinha municipal e mais o quê?
Agora a verdade corrói minha alma porque eu noto o quanto fui egoísta. Se eles não estão com o que merecem de melhor é unica e exclusivamente por culpa minha, que não deixei o caminho deles livre.
Todos os dias, silenciosamente, peço perdão a cada um deles porque eu sei que errei.
Errei mas, do fundo do meu coração, foi com muita vontade de acertar."

Todos os dias olho para o céu e converso com Deus. Peço força e ajuda. Pergunto qual a razão de cada porta fechada... mas Ele não me responde e parece nem me ouvir.
Arrependida e desconsolada, eu tenho a sensação que Deus me esqueceu.
Continua...


Eu me culpo mt com a história que dei para o meu filho e me culpava a ponto de entrar em depressão. Hj, especificamente 08/09 é niver do meu filho e não tenho um centavo para comprar uma bala de presente, e é mt frustrante. Mas aprendi com uma médica que não existe "decisão certa ou errada", e sim, o que julgamos ser o certo naquele momento, e se tomamos a decisão com amor, fizemos a escolha certa. Vc pode não dar luxo, mas quem garante que com outra família eles teriam o grande amor q vc dá? A experiência me ensinou que criança precisa de amor, atenção e carinho; o restante é complemento que podemos lutar e conquistar com a vida! Sua história me faz refletir sobre a minha e nos iguala numa coisa: não temos dinheiro ou luxo, mas podemos dar o nosso melhor sempre por amor!!!! Bjs. Edna
ResponderExcluir"...Elas não terão vida de artistas, mas todo o essencial elas terão! E terão o mais importante que é um lar, uma família, uma mãe e muito, mas muito amor..."
ResponderExcluirElaine, jamais imaginei que diria isso, sinceramente, mas pára um pouco e pense no que você escreveu... repare nas suas palavras por uns minutos, com a razão da qual você tem de sobra, e não com a indignação, arrependimento, pessimismo e consternação com as quais vejo nas palavras.
Eu já comecei jogando as palavras da sua mãe, porque do meu ponto de vista, ainda mais pelo exemplo que tive ontem com a Becca, dela olhar pra mim e falar "- Não vamos porque eu não queria ficar sem minha mamãe!", meu, eu sei e todo mundo sabe que ninguém vive só de amor, mas de dedicação, perseverança e força de vontade, com certeza, e sei que isso não falta em ti para essas crianças. Não vejo crianças jogadas, abandonadas, passando fome, sujas, sem roupas, parecendo crianças de rua, muito pelo contrário, pela simplicidade que elas estão sendo criadas, vejo elas muito bem.
Não se engane com coisas superfluas, criação não se faz com dinheiro, eles não tem idade nem noção para discernir roupas caras de roupas baratas, e que família de status? Aquela que eles iriam colocar uma pessoa estranha para cuidar das crianças? Em que elas perguntariam: "- Babá, eu tenho pai e mãe? Quem são?", "- Ah, sabe aquela senhora que vem aqui de vez em quando no domingo? E aquele senhor que aparece uma vez por mês? Então, eles são seus pais!".
Ou então, ao invés dessa família de status, eles estariam lá, jogados no abrigo, com comida racionada, dividindo espaço e lutando com outras criamças para chamarem a atenção dos casais que vão adotar crianças e rejeitam-os, ou até se escondendo para não ir parar nas mãos de mais estranhos que sabe-se lá o que poderiam fazer com eles, o X ainda seria muito instrospectivo e falaria pouquissimo, e a Y talvez nem falasse, nem andasse, e cresceria com esse sentimento de repudiação a tudo e a todos dentro de si, sem nem ao menos conhecer o irmão. Egoísmo seria não dar nem ao menos uma chance para as crianças e principalmente para você, que já provou ser capaz de lutar e enfrentar tudo por elas.
Meu, de boa, sei das suas dificuldades, mas não justifica esse seu sentimento, há pessoas com situação melhor, mas há o dobro, quiça o triplo de gente que estaria melhor se estivesse no seu lugar, porque você abandonou a segurança do seu mundo, e agora você é a segurança do mundo deles.
Desculpe as palavras, mas infelizmente não gostei do post, e digo isso porque quero muito seu bem e o dos babies, e concordo com sua mãe, não falta roupa, comida nem espaço, que diferença pra eles, com esse tamanhinho todo, faz essa casa e um apartamento enorme e espaçoso? Nenhuma, desde que você esteja com eles, a pessoa que eles mais amam nesse mundo todo.
Você Precisa Acreditar Mais Em Você...
VOCÊ PRECISA ACREDITAR MAIS EM VOCÊ...
Bjo. Zé
Minha amiga, cabeça erguida, creia em vc, creia em Deus... ele te responde sim em pequenas coisas. Gostei muito que seu colega Zé escreveu! Uma realidade e tanto. O que mais uma criança quer? Atenção, carinho, carinho e mais carinho. Vc não vai deixar faltar nada... nada o que vc pode dar sendo simples ou não. Mas eles saberão que vc e seus pais estarão sempre do lado deles. Que futuro é este? É o exemplo que eles terão de família para eles mesmo constituirem suas famílias um dia. E se tivessem ainda no abrigo? Muito triste! E pais com poder aquisitivo bem melhor porém AUSENTES sempre! Crianças precisam de atenção, comunhão com pais, religião, amor, família, amigos, interação... Acredite em vc, acredite que seu Deus é surpreendente em todos os sentidos! Ele vai te surpreender! Bjs e cabeça erguida... Vc sempre será capaz! Creia no milagre!
ResponderExcluir